Foi desesperador, diz corretor preso, acusado de matar policial
Homem de 33 anos foi solto após defesa provar que ele estava na casa da namorada no dia do crime
Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados
Você atingiu o limite de
5 reportagens
5 reportagens
por mês.
Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login
Depois de passar uma semana preso em distritos policiais da capital paulista, sob a acusação de ser o autor do homicídio de um policial aposentado de 79 anos, o corretor de imóveis Guilherme Mendonça de Matos, de 33 anos, diz que ainda está assimilando tudo o que viveu nos últimos dias, e que alguns traumas talvez permaneçam para sempre.
“Foi desesperador, uma situação que nunca imaginei que passaria. Nunca dei motivo para isso, trabalho na mesma empresa há oito anos. Fiquei numa cela que estava sem água junto com outros nove homens, sem poder nem usar o banheiro quase três dias”, contou ao Agora.
Segundo ele, tudo começou quando soube que a polícia o procurou durante um fim de semana em que estava na casa da namorada, com os filhos –um de dois e outro de quatro anos--, em Taboão da Serra. Ele conta que saiu da casa que ainda divide com a ex-mulher na sexta (4), na companhia dos filhos.
Quando ia retornar, no domingo, recebeu uma ligação de seu irmão dizendo que policiais o estavam procurando num endereço antigo. Ele pediu o telefone de um dos policiais para entrar em contato, e foi informado que deveria prestar depoimento por causa de um carro que ele vendera no passado, e que teria se envolvido num acidente de trânsito.
“O policial que me atendeu disse que eu estava sendo procurado por conta de um carro antigo meu, que teria se envolvido num acidente. Achei estranho porque o motor desse carro fundiu e ele não estava mais andando. Como estaria num acidente?”, questionou.
Matos resolveu então não ir para a delegacia e avisou o policial. Foi então que descobriu que a acusação contra ele eram graves. Ele procurou orientação com uma prima advogada, que disse para ele esperar uma intimação oficial para apresentar-se à polícia. O corretor continuou trabalhando normalmente, inclusive nos extras que costuma fazer como músico.
“Fiquei tranquilo, pois ninguém falou mais nada sobre o assunto. Cheguei a ver na TV algo sobre esse crime, afirmando que já havia um suspeito, mas não tinha ideia que esse suspeito era eu por causa de um carro que vendi em 2014”, disse.
A prisão
No dia 17 de outubro o corretor foi procurado em seu trabalho por policiais, que o orientaram a ir à delegacia prestar depoimento. “Descobri que estava sendo preso. Fui sozinho até lá para esclarecer um mal-entendido e acabei preso, com a roupa do corpo. Fiquei sem falar com a família, sem saber o que estava acontecendo aqui fora, mas tinha certeza da minha inocência e de que, de alguma maneira, provaria isso.”
Guilherme afirma que chegou a pedir para que a polícia chamasse as testemunhas para fazerem um novo reconhecimento, já que elas teriam afirmado que ele era o autor dos disparos após olharem uma foto de 2009 numa CNH. “Elas foram até a delegacia, mas acabaram afirmando que eu era o culpado”, disse.
O homem diz entender a situação das testemunhas, e acredita que o estado emocional abalado possa ter influenciado a esse equívoco. “Foi um absurdo, pois eu estava sendo acusado de um crime que ocorreu num dia em que eu estava com as minhas crianças, a 20 km de distância do local, assistindo Pepa Pig no Youtube”, afirmou.
Negro e morador da periferia, Guilherme de Matos considera que esses fatores influenciaram em todo o processo. “Mais uma vez temos que provar que um preto não fez o que disseram que fez.”
O corretor ainda não voltou ao trabalho, que conseguiu manter, e não conseguiu ver os filhos desde que deixou a prisão. Emocionado, ele conta que nunca tinha ficado tanto tempo longe das crianças.
Sobre os próximos passos, ele diz que vai precisar de terapia, e só espera que o DHPP desvende esse crime e prenda o autor. A família ainda não sabe se entrará com alguma ação conta o Estado.
O caso
A Justiça revogou na noite da quarta-feira (23) a prisão do corretor Guilherme Mendonça de Matos, 33 anos, acusado de matar com quatro tiros um policial civil aposentado em Cidade Dutra (zona sul da capital paulista).
A Ouvidoria das polícias de São Paulo disse ao Agora, na terça-feira (22), que existiam fragilidades na acusação contra Matos e que não via sustentação na prisão.
Resposta
O DHPP afirmou que, após a realização de novas oitivas e diligências, solicitou à Justiça a revogação da prisão temporária do referido suspeito, que continua sendo investigado. O alvará de soltura foi expedido e cumprido na quarta-feira (23).
"Todas as circunstâncias relativas ao caso continuam sendo apuradas pelo departamento a fim de elucidar os fatos e prender os responsáveis. Mais detalhes não serão fornecidos, pois o caso está sob sigilo", disse nota da SSP.
A secretaria também informou que o homem ficou detido no 2º DP do dia 18 ao dia 23 de outubro, e que nesse período não houve nenhuma irregularidade com relação a falta de alimentação, água ou qualquer outro direito.