Shoppings populares e galerias no centro de SP descumprem regras para reabertura
Em centros comerciais na região do Brás, distanciamento mínimo não é respeitado
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Duas semanas depois de a prefeitura de São Paulo ter liberado o funcionamento do comércio na capital, shoppings populares e galerias de rua na região do Brás estão descumprindo as regras estabelecidas para o setor. Entre as determinações não atendidas, a principal delas é o distanciamento mínimo entre as pessoas.
A reportagem do Agora percorreu diversos centros de compras no largo da Concórdia e na região da Rua Vautier na manhã desta terça-feira (23). Em todos os locais visitados, há aglomeração de pessoas em corredores estreitos, que, em alguns casos, chegam a ter menos de um metro de largura. A portaria assinada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) no dia 10 de junho estabelece que, nos shoppings, deve ser respeitado o distanciamento de pelo menos um metro e meio entre os consumidores e entre os lojistas.
O protocolo também determina que, na fase da quarentena em que se encontra a capital paulista, os shoppings recebam somente 20% da sua capacidade de público. Porém, não foi visto controle de acesso em nenhum dos estabelecimentos visitados. Em um dos shoppings, havia grande quantidade de pessoas no andar inferior. Os carrinhos de compras espalhados pelos corredores faziam com que os visitantes tivessem que se espremer para passar.
Na maioria dos centros comerciais de maior porte, um funcionário na entrada media a temperatura dos visitantes. Nas galerias menores, não foi visto esse procedimento. Em relação ao álcool em gel, geralmente o produto é oferecido na porta. No entanto, há poucos dispensers disponíveis pelos corredores.
Outra falha diz respeito à utilização correta de máscaras. É comum ver pessoas utilizando o equipamento de proteção de maneira inadequada: sobre o queixo ou com o nariz para fora. Apenas em um centro comercial, a Feirinha da Concórdia, um segurança foi visto orientando um cliente a colocar a máscara corretamente.
A portaria da prefeitura com as regras para o funcionamento do comércio sugere que os centros de compras definam sentidos únicos de circulação em um mesmo corredor. Em outro centro de compras, foram colocados adesivos no chão informando a direção do fluxo. Porém, isso não foi respeitado.
Os riscos de contaminação pelo coronavírus não estão limitados aos shoppings e galerias populares.
Nas principais ruas do Brás, há uma grande quantidade de vendedores ambulantes, que espalham seus produtos pelas calçadas e diminuem o espaço para circulação, reduzindo ainda mais o distanciamento.
Falha na fiscalização
Durante as três horas em que a equipe do Agora percorreu a região do Brás, não foi vista nenhuma equipe de fiscalização da prefeitura. No largo da Concórdia, uma dupla de policiais militares foi flagrada com a máscara no queixo.
Lanchonetes funcionam normalmente
Em dois centros de compras visitados na manhã desta terça, lanchonetes funcionavam normalmente. A situação descumpre as regras da quarentena vigentes na capital.
Nas lanchonetes, os consumidores se alimentavam normalmente no local, o que os obrigava a tirar as máscaras. Em um dos shoppings, havia uma faixa para afastar os clientes dos atendentes. Mesmo assim, os visitantes ignoravam a sinalização e se apoiavam sobre o balcão para comer.
A portaria assinada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) com as regras para o funcionamento do comércio durante a quarentena determina que, na fase em que a capital se encontra, é proibido o funcionamento de praças de alimentação nos shoppings.
O texto estabelece que, na fase laranja do Plano São Paulo de combate ao novo coronavírus, restaurantes e lanchonetes podem funcionar somente para entregas ou retirada - e não para consumo no local.
Somente na próxima fase do plano, identificada pela cor amarela, é que o consumo será liberado, desde que sejam respeitadas regras como distanciamento e higienização adequada.
Clientes dizem ter medo, mas citam necessidade
Os consumidores que frequentam as lojas do Brás admitem ter medo da contaminação pelo novo coronavírus. No entanto, grande parte dos clientes que fazem compra na região também são comerciantes e precisam ir ao local para comprar materiais para revenda.
É o caso de Iara Cardoso, 39 anos, que veio de ônibus de Paranavaí, no interior do Paraná, para fazer compras no Brás. O tempo de viagem é de aproximadamente nove horas. "Eu tenho medo [da doença]. Mas não tem jeito, temos que trabalhar", comenta.
A comerciante Victória Viana, 18, tem uma loja de roupas com a irmã no bairro do Jabaquara, zona sul da capital. "Está bastante lotado aqui. Imaginei que teria menos gente", admite. Ela diz ter medo do novo coronavírus, mas avalia que muitos outros consumidores já relaxaram, passando a se prevenir menos. "Não posso ficar sem mercadoria. Então tenho que vir garantir o estoque", acrescenta Victória.
Prefeitura promete fiscalizar pontos de venda
Por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), prometeu que, ainda na tarde desta terça, a subprefeitura da Mooca faria uma fiscalização nos locais visitados pela reportagem na região do Brás.
A subprefeitura afirma que 20 equipes são responsáveis pela fiscalização na área e que as operações são feitas em dois turnos: das 7h às 16h30 e das 22h30 às 5h30, em parceria com a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana.
De acordo com a prefeitura, as ações de fiscalização nos bairros do Brás e Pari resultaram na apreensão de 21 mil produtos vendidos irregularmente do início de abril até 23 de junho. Por fim, a prefeitura diz que o próprio setor do comércio tem de ajudar no cumprimento das normas.
"No termo firmado para a reabertura de shoppings e galerias foi determinado que a fiscalização e monitoramento são realizados por autotutela, entre os itens a serem monitorados está o horário de funcionamento. Também cabe aos lojistas promover ações de higiene e distanciamento social, inclusive em eventuais filas nas portas dos estabelecimentos."
O conselheiro executivo da Alobras (Associação de Lojistas do Brás) Lauro Pimenta afirmou que a entidade notificou e orienta todos os seus associados sobre o protocolo de segurança e distanciamento acordados com a Prefeitura de São Paulo.
O Brás, de acordo com a associação, conta com quatro mil lojas e quase oito mil boxes dentro de shoppings e galerias. "Reconhecemos que em muitos casos está havendo falhas com relação ao cumprimento das normas. Ressaltamos periodicamente os cuidados que devem ser tomados pois a expectativa do comerciante é a ampliação do tempo de abertura e não o fechamento, sendo assim a Alobras reforça seu compromisso com as normas de segurança", pontuou o conselheiro.
Pimenta afirmou ainda que a Feirinha da Concórdia, mencionada na reportagem, segue as diretrizes de protocolo da prefeitura e que os demais locais mencionados não são filiados à Alobras.
A PM foi procurada para comentar sobre o uso incorreto de máscaras por uma dupla de agentes no largo da Concórdia, mas não respondeu até o fechamento desta edição.