Teste aponta máscara de TNT como mais segura sem sufocar
Análise feita pela USP a pedido da reportagem mostra que equipamento mais caro não é o melhor
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Não é o preço ou a espessura do material com que é feita que indicam se a máscara é segura ou não. Testes realizados a pedido do Agora pelo Instituto de Física e pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) apontaram que as máscaras com maior equilíbrio entre proteção e respirabilidade são produzidas em TNT e não pesam no bolso.
Uma máscara comprada em um pacote de três por R$ 4,99, numa loja do Brás (região central), garantiu 82,1% de proteção e uma excelente respirabilidade, o que assegura o conforto para quem usa. Não é grossa e nem cara, como uma de neoprene vendida por R$ 5 a unidade na porta da estação Brás da CPTM, que embora ofereça quase o mesmo nível de proteção, sufoca quem usa.
Em comparação com as de TNT, as máscaras comuns de algodão, laváveis, mostraram uma capacidade de filtragem mais baixa e deixaram a desejar também na respirabilidade. Já uma máscara profissional, como a PFF 1 (com válvula), oferece muita segurança, mas é difícil permanecer com ela por muito tempo, por causa da sensação de sufocamento.
Professor do Instituto de Física, Paulo Artaxo afirma que uma boa máscara deve ter a capacidade de filtragem superior a 80%. Diz também que, embora descartáveis, máscaras de TNT podem ser lavadas até três vezes, no máximo. “Não devem ser lavadas muitas vezes, porque perdem a eficiência”, diz.
O professor da USP faz uma ressalva e diz que, muitas vezes, a pessoa não tem uma máscara de TNT à mão ou para comprar. Nesses casos, é importante usar outra, mesmo que de um material diferente, como algodão.
Embora as máscaras sejam um equipamento de proteção eficiente, Artaxo lembra que o distanciamento social ainda é a melhor forma de evitar o coronavírus. “Tem que ser usada sempre que sair de casa, mas as pessoas devem ir para a rua o menor número de vezes possível”, explica.
Riscos
Especialista do Instituto de Física da USP, Fernando Morais explica que uma máscara pouco respirável pode até trazer riscos. “Uma sacolinha de supermercado, por exemplo, não vai deixar passar nada, mas você não respira, então não adianta”, explica. “Quando é pouco respirável, você puxa, mete a mão na máscara e acaba levando o vírus até o boca.”
Morais é adepto das máscaras triplas de TNT. “São leves, respiráveis e têm clipe que não deixa embaçar os óculos.”
O ideal é que o equipamento não dificulte tanto a respiração, mas há situações de alto risco em que isso não é possível. Em uma UTI, por exemplo, vale mais a filtragem elevada do que a boa respirabilidade.
Material tem variação na qualidade
Nem todo TNT pode ser considerado seguro, segundo o especialista Fernando Morais, do Instituto de Física da USP. “A gente já mediu TNT com apenas 13% de filtragem até outro com 98%”, afirma o estudioso do tema.
Para quem está no meio da rua, sem qualquer equipamento de medição ou então uma garantia segura de que o TNT que está sendo vendido é de boa qualidade, Morais dá uma dica que pode ser valiosa na hora da escolha do equipamento do produto. “É só colocar contra a luz e ver se está uniforme. Quando é ruim, tem partes mais escuras e outras mais claras. O ar sempre vai procurar as partes mais claras, que são mais finas e filtram menos. Tem que ser uma estrutura mais homogênea”, explica.
Embora o TNT seja apontado como o melhor material para ser usado nas máscaras de proteção até o momento, vale ressaltar que ele não é reciclável. “É um tecido plástico, não é de algodão e não pode ser reciclado. É descartado. Mas estamos passando por uma situação de emergência, por isso a importância no uso”, afirma o professor do Instituto de Física, Paulo Artaxo.
Segundo Artaxo, é muito provável que, além da busca por vacinas, também esteja ocorrendo o desenvolvimento por materiais com melhor respirabilidade e maior eficiência durante a pandemia. A resposta da indústria de tecidos pode ser a garantia de mais conforto para população.
Equipamento serviu para garantir empregos na crise
As máscaras que tiveram o melhor equilíbrio entre proteção e respirabilidade serviram também para evitar o desemprego de parte dos funcionários de uma fábrica de roupas do Brás (região central) durante a pandemia. Ao todo, foram produzidas 3 milhões de peças por trabalhadores que estavam impedidos de trabalhar nas lojas, por causa do fechamento do comércio.
Com as lojas reabertas recentemente, as máscaras ganharam também outra importância para clientes. “A gente vende como complemento. Nosso forte é moda feminina e masculina. Damos um desconto de 30% quando o cliente compra acima de 12 peças. Como todas as pessoas estão usando máscaras, elas são agregadas à compra para chegar a esse número”, afirma a gerente da unidade da rua Oriente, Adriana Chagas Magalhães, 44 anos. O pacote com três sai por R$ 4,99 —no atacado, R$ 3,99.
A maioria dos clientes retorna para comprar, mas por outro motivo. “Esse ferrinho [clipe nasal] faz toda a diferença. Não deixa embaçar os óculos. Quando você está com a máscara comum, não dá nem para dialogar”, afirma.
O resultado é que o expositor que divide a frente da loja com as roupas de inverno tem que ser reposto uma vez ao dia, explica a gerente da loja.
Segundo Adriana, o produto não caiu no gosto apenas dos clientes. Toda a sua equipe também usa o equipamento de proteção. “É muito confortável e trocamos a cada duas horas”, afirma a gerente.
Teste usa equipamento de física atmosférica
O testes de filtragem foram realizados pelo técnico do Instituto de Física da USP Fabio Jorge, que faz questão de usar uma máscara tripla de TNT de boa qualidade. Segundo o responsável pelo trabalho no laboratório, foram usados equipamentos que, normalmente, são empregados em física atmosférica, como a medição da poluição do ar, por exemplo.
Jorge afirma que não apenas o material, mas a própria construção da máscara também é fundamental para que garanta a proteção. “Aquelas com costura na parte frontal são menos eficientes, por exemplo”, explica. A capacidade de filtragem também diminui conforme o tecido umedece.
Após a análise no Instituto de Física, as máscaras foram enviadas para a Escola Politécnica, onde passaram por novos testes, que detectaram o quão respirável é cada equipamento.
A análise das máscaras é parte do projeto Respire!, conduzido de forma voluntária pelos profissionais da universidade pública.
Veja os resultados
Modelo | Filtragem (quanto maior, mais proteção) em % | Respirabilidade (quanto menor, mais respirável) em cm de H2O/cm² | Onde | Quanto | Material |
Máscara 1 | 82,1 | 0,98 | Loja no Brás | R$ 1,66 (3 por R$ 4,99) | TNT |
Máscara 2 | 67,87 | 0,75 | Ambulante no Brás | R$ 1,50 | TNT |
Máscara 3 | 50,9 | 4,09 | Banca em loja no Brás | R$ 2 | Algodão |
Máscara 4 | 30,98 | 0,79 | Banca em bar no Brás | R$ 2 | Tricoline |
Máscara 5 | 49,77 | 2,28 | Metrô Chácara Klabin | Gratuita | Algodão |
Máscara 6 | 81,53 | 8,15 | Estação Brás | R$ 5 | Neoprene |
Máscara 7 | 33,21 | 0,65 | Ambulante no Brás | R$ 3 | Neoprene |
Máscara 8 | 96,01 | 5,72 | Loja de material de construção no Pari | R$ 2 | PFF1 (com válvula) |
Observação: Estes dados são produtos do esforço da USP em ajudar a sociedade a desenvolver melhores máscaras. Eles não se propõem a fornecer um critério de julgamento de produtos, mas apenas permitir a comparação de soluções submetidas a mesmo ensaio.
Fontes: Equipe de voluntários formada por Daniel Costa Reis, doutorando Poli USP, Lucas Nascimento de Lima, mestrando Poli USP, Fabio Jorge, técnico IF USP, Fernando Morais, especialista IF USP, Paulo Artaxo, professor IF USP, Vanderley M John, professor Poli USP, Victor Keniti Sakano, doutorando Poli USP