Máscaras criativas incentivam o uso e ajudam a aliviar o medo

Modelos estilizados têm versões com estampas de super-heróis, caveiras, flores e corações

Modelos estilizados têm versões com estampas de super-heróis, caveiras, flores e corações

São Paulo

A chegada da pandemia do novo coronavírus pegou as pessoas de surpresa. Em pouco tempo, a doença impôs a necessidade de isolamento social e criou novos hábitos de higiene rigorosos como o uso constante do álcool gel nas mãos.

Outra mudança foi a utilização de máscaras de proteção facial. Em São Paulo, o item já vinha sendo incentivado por especialistas e autoridades, na última semana, porém, o uso passou a ser obrigatório no estado, para quem estiver nas ruas, no transporte e nos comércios autorizados a funcionar durante a quarentena.

A novidade inesperada por conta da crise sanitária criou a oportunidade de inovar no vestuário. Seja para aliviar os receios diante de uma doença pouco conhecida, para combinar com as roupas, expressar carinho por algum personagem, ou mesmo por diversão, máscaras criativas têm se tornado uma oportunidade de negócios para quem produz e uma forma de descontrair para quem usa.

"Na verdade, eu uso a que tiver. Tenho de florzinha, sem estampa, enfim. Também acho importante ajudar os artesãos locais, que estão sem renda, mas as máscaras estilizadas podem incentivar crianças e adolescentes a aderirem ao uso", conta Daniela Marino, 43, que tem duas máscaras da Mulher Maravilha.

"Ao mesmo tempo, as pessoas também estão dando um jeito de se expressar, né? Porque não é mais possível ver os lábios, os sorrisos, então as máscaras podem passar alguma mensagem. No meu caso, me identifico bastante com a Mulher Maravilha e nas vezes que usei, outras mulheres comentaram que gostaram, elogiaram", diz a professora universitária que mora em Santos (72 km de SP), no litoral sul paulista.

Daniela Cristina de Souza Borges, 37, tem ao menos 20 máscaras de pano. A maioria tem estampas neutras, mas ela também conta com itens com desenhos de mandala, do Snoopy, de unicórnios e de corações com máquinas fotográficas.

Daniela Cristina de Souza Borges, tem mais de 20 mascaras de pano
Daniela Cristina de Souza Borges, tem mais de 20 mascaras de pano - Rivaldo Gomes/Folhapress


"Estou enlouquecida com as que tenho visto. Eu gosto de coisa criativa, então, me amarro nas máscaras engraçadas. A situação já não é boa, acho que estampas alegres, diferentonas, ajudam os olhos de quem vê. Como uso óculos, ainda tento combiná-los com a máscara", conta a moradora do Planalto Paulista, bairro da zona sul da cidade de São Paulo, que trabalha com comunicação corporativa.

Outra pessoa empolgada com a moda da máscaras é Lilian Benassi, 41, que trabalha com recursos humanos. "Eu, particularmente, adoro. O brasileiro é muito criativo. Transformou algo que não fazia parte do nosso dia a dia em uma peça que fará parte de nós pelos próximos meses", afirma.

Quando precisa sair, a moradora de Itupeva (71 km de SP) utiliza umas de suas máscaras que possuem desenhos florais, de caveira ou de patinhas de cachorro.

"Sem falar que foi uma forma de algumas pessoas terem alguma renda. Tenho uma amiga que trabalha com vestuário feminino autoral. As vendas, obviamente, caíram, porque ela vivia de bazares. Encontrou nas máscaras customizadas uma forma de ter renda. Comprei básicas, lisas, para meu marido usar no trabalho, mas para mim e para o meu filho, quando precisamos sair, temos estampas diferentes", diz.

Na avenida Paulista, na região central da capital, três bancas de jornais vendem máscaras criativas com diversos modelos inusitados principalmente, com desenhos de super-heróis ou além de caveiras. Cada item é vendido, em média, por R$ 10. "Vendo 30 máscara por dia", diz Rafael Xavier, 38 anos, que trabalha em uma das bancas, que fica perto do Masp (Museu de Arte de São Paulo).

Produção é feita no tempo que sobra

Regina Martha Riscala, 62 anos, trabalha com serviço administrativo em casa na quarentena por causa da Covid-19. Nos momentos em que não está em sua atividade principal, ela produz máscaras de proteção.

"Estou fazendo com pequenos tecidos que tenho. Não sou costureira. Sempre mexi com 'paninhos', como minha família costuma dizer. Virou uma mania minha e alguns panos uso para fazer artesanato. E agora, nesse momento, minha cunhada e minhas filhas deram a ideia para que eu confeccionasse as máscaras", conta a moradora do Bosque da Saúde, na zona sul.

"Alguns tecidos que tenho são diferentes dos comuns. Já vendi por volta de cem máscaras desde que comecei", diz. Entre elas estão com modelos estampados com personagens como Snoopy, Hello Kitty, Garfield e da série "The Big Bang Theory".

Já para uma empresa de marketing promocional de Moema, na zona sul, produzir máscaras estilizadas foi a alternativa para manter os negócios e não demitir funcionários. Além de modelos com caveiras, são fabricadas máscaras customizadas para grandes companhias e até mesmo para motoclubes.

Tecido sintético pode provocar irritação na pele

É legal estar na moda, mas é importante manter a higienização das máscaras de pano, que devem ser lavadas após a utilização.

As máscaras devem ser produzidas respeitando as orientações do Ministério da Saúde, lembra Joice Fabiana da Silva Parra, professora da disciplina Costura e Modelagem no Senai.

"Estar na moda, mas com segurança, que é a grande finalidade da máscara. A produção deve seguir as regras de proteção de saúde. A máscara já se tornou um acessório do vestuário. Já que é obrigatório, as pessoas buscam usar algo bonito", conta a especialista, que dá aulas na unidade do Brás, na região central da capital.

Joice explica que o tecido sintético é o melhor para elaborar estampas, mas que pode irritar a pele. Por isso, o ideal é fazer a primeira barreira de algodão e utilizar o material sintético por fora.

Alunos da Fatec produzem modelos para doação

Um projeto da Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado) incentiva a utilização de máscaras criativas. Alunos da instituição pública, trabalhando como voluntários, já fizeram mais de 4.000 máscaras de proteção facial em casa para doar à população e a instituições da cidade de Americana (127 km de SP). Além dos modelos básicos, os alunos criam modelagens divertidas e engajadas.

"Para mim é uma experiência muito bonita e necessária, já que estamos passando por um momento muito delicado e a sociedade ao nosso redor precisa desse apoio. A máscara, hoje, está fazendo parte do nosso look e, querendo ou não, esse acessório com estampas variadas comunica algo, assim como a própria moda sempre comunicou", afirma Evandro Modulo de Jesus, que estuda têxtil e moda na instituição.

De acordo com o Ministério da Saúde, as máscaras caseiras precisam ter pelo menos duas camadas de pano e não podem ser divididas com ninguém. Os itens podem ser feitas em tecido de algodão, tricoline ou TNT. É importante que a máscara seja feita nas medidas corretas cobrindo totalmente a boca e nariz e que estejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços nas laterais.

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