Tendas em feiras livres realizam teste da Covid-19 na capital paulista

Resultados saem em 15 minutos e detectam presença de anticorpos, mas o risco de falsos resultados é alto

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São Paulo

Tendas em feiras livres da capital ofertam testes rápidos da Covid-19 para feirantes e compradores. Segundo a prefeitura, a ação faz parte do Projeto Feira Segura e continua até o fim de novembro, atendendo em 20 locais por dia. Até o dia 13 de outubro, foram feitos 1.029 testes, 960 deles negativos e 69 positivos.

Os testes rápidos são feitos com sangue e têm o objetivo de detectar anticorpos IgM/IgC para identificar se a pessoa já teve contato com o vírus. O resultado sai em 15 minutos. "Quando é detectado um teste positivo para Covid-19, são passadas orientações sobre a doença e os cuidados a serem tomados", afirma nota enviada pela prefeitura.

A eficácia desse tipo de testagem, contudo, é questionável, afirma Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Uma das questões é que a chance de falsos resultados (negativo ou positivo) é alta. Um resultado positivo, por exemplo, poderia dar uma falsa tranquilidade para a pessoa de que ela estaria protegida. "As pessoas ficam iludidas com esse resultado." Individualmente, afirma, esse tipo de teste é inútil.

"São testes que têm limitação: temos um número muito grande de fabricantes que trouxeram esses testes para o Brasil, mas muitos não têm validação da Anvisa. Além disso, a produção de anticorpos pode demorar duas semanas para positivar um teste e, com o passar do tempo, a pessoa pode perder os anticorpos", diz Stucchi.

Laboratório oferece teste da Covid-19 em feiras livres de São Paulo; o resultado é divulgado em até 15 minutos - Rubens Cavallari/Folhapress

Segundo a prefeitura, o objetivo da testagem é monitorar a saúde do feirante "com levantamento epidemiológico a custo acessível ao profissional, que tem alto índice de exposição durante a pandemia", afirma nota da prefeitura. O projeto é fruto de uma parceria entre o Departamento de Abastecimento da capital e empresas privadas.

Stucchi, contudo, afirma que os testes rápidos servem para realizar inquéritos epidemiológicos, quando há testagem em grande escala, mas têm resultado "muito inferior" a testes sorológicos.

Outro ponto que vale atenção nos testes, segundo a infectologista, é o valor. Feirantes pagam R$ 29, e a população, R$ 49. Em farmácias de São Paulo, a média de preços pelo mesmo teste é de R$ 130. "Se tem essa discrepância de preço, é de desconfiar."

Resposta

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirma que os testes são realizados pelo Laboratório DIA - Diagnosticos Integrados da América, em parceria com a Soma Plus Consultoria de Serviços. Rui Freita, consultor do DIA, afirma que a empresa foi subcontratada pela Soma Plus. ​

Questionado sobre a eficiência dos testes e a possibilidade de falsos resultados, o consultor afirma que, quando há um resultado positivo, é feita uma contraprova "com outro teste mais específico, que a confiabilidade é de 100%".

Não há, até agora, indicador de quantos resultados positivos foram negativados nessa segunda testagem. Ambos, diz, detectam os anticorpos IgM/IgC.

Otaciano Amarino, proprietário da Soma Plus, contudo, afirma que é usado um teste que garante "99% de acerto", tanto para resultados positivos quanto para negativos. De acordo com ele, foi utilizado apenas um lote de 40 testes em que o nível de acerto não era esse.

Segundo Freita, o valor pago pela população custeia o do feirante, mais barato. O primeiro teste custa "menos de R$ 30", enquanto o segundo, "mais completo", custa "cerca de R$ 30".

Sobre a disparidade de preços em relação a outros locais, os dois afirmam que o teste oferecido nas feiras é barato porque não visa ao lucro. "Nossa parceria com a prefeitura foi para oferecer um produto acessível à população. Conseguimos isso com o laboratório e a importadora, e o repasse que estamos fazendo para a população é o mínimo possível", diz Amarino.


Como funcionam os testes?

Os testes de anticorpos identificam pessoas que já tiveram contato com o vírus e, por isso, devem ser feitos a partir do oitavo dia de contágio.

Os anticorpos IgM são generalistas e produzidos pelo corpo no início do contágio, entre o terceiro e o quinto dias da infecção. Já os anticorpos IgG são específicos para um agente viral e costumam aparecer na fase tardia de uma infecção —no caso da Covid-19, após o oitavo dia.

Os exames do tipo PCR devem ser realizados entre o terceiro e o décimo dias da infecção, quando ocorre eliminação do material viral por gotículas da saliva ou espirro. É esse teste que detecta quem está doente naquele momento.

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