Musicoterapia pode ajudar a tratar doenças degenerativas em idosos

Técnica presente em asilos e hospitais estimula o cérebro usando elementos musicais

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Gabriela Bonin
São Paulo

Ouvir música, além de ser uma experiência prazerosa, pode ser uma atividade complementar no tratamento de doenças ou deficiências. Nas instituições de longa permanência de idosos ou hospitais, a prática é difundida com objetivos terapêuticos e traz maior qualidade de vida aos pacientes.

A musicoterapia consiste no uso da música e seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) para gerar estímulos cerebrais. A técnica pode ser realizada individualmente ou em grupo e é complementar ao tratamento de doenças como Parkinson, Alzheimer e de outras situações que envolvem degeneração, como um acidente vascular cerebral (AVC).

Há sempre uma finalidade terapêutica. "No caso de idosos, esse objetivo pode ser recuperar ou retardar a perda de memória", explica a musicoterapeuta e professora da UFG, Tereza de Melo Alcântara Silva. O contato com estímulos musicais, principalmente se forem conhecidos, faz com que o cérebro se conecte a experiências carregadas de emoção e afeto.

"Não é apenas uma recreação musical", conta Juliana Carvalho, musicoterapeuta do Hospital Sírio-Libanês. Segundo ela, há um trabalho prévio do profissional de entender qual o histórico sonoro-musical que irá gerar estímulos naquele paciente, por exemplo, quais músicas ou sons remetem a algum período específico da vida daquela pessoa.

Arte Agora São Paulo

Carvalho também explica que a musicoterapia pode ser interativa ou receptiva. Na primeira, tanto o paciente quanto o profissional podem tocar instrumentos, produzir sons ou cantar. Já a musicoterapia receptiva se apresenta como possibilidade para pacientes acamados, como idosos que possuem restrições de movimentos. Nela, eles se beneficiam recebendo estímulos sonoros que são produzidos apenas pelo musicoterapeuta.

No Residencial Club Leger, no Jaraguá (zona norte), os idosos residentes contam com atividades de musicoterapia semanalmente. "Muitas vezes, unimos o trabalho com música ao que chamamos de 'dança sênior', que são danças, em sua maioria sentadas, que também estimulam questões motoras e cognitivas", relata o musicoterapeuta do local, Tarik Bispo.

“A música é um poderoso agente de estimulação e também de tratamento", reforça a profissional do Hospital Sírio-Libanês. "Os neurologistas estão cada vez mais dispostos a estudar os efeitos musicais no cérebro, como uma forma interessante de complementar o tratamento médico.”

MÚSICA TAMBÉM AUXILIA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS

O uso da musicoterapia se faz muito presente no setor pediátrico. No Hospital Sírio-Libanês, antes da pandemia de Covid-19, o trabalho era feito em grupo na internação da pediatria do hospital. Não só as crianças participavam do uso de instrumentos, produção de sons e canto, mas também os acompanhantes e corpo clínico, caso quisessem.

Mesmo com o trabalho agora sendo realizado individualmente, as crianças continuam se beneficiando com a prática. A música estimula áreas do cérebro relacionadas a habilidades cognitivas, motoras e de linguagem e, por isso, é utilizada para auxiliar no desenvolvimento infantil.

Estudos relatam que, com esse método terapêutico, crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) desenvolvem a atenção seletiva e melhoram seu desempenho em tarefas motoras.

"A música é mobilizadora de afeto e muita abertura na comunicação”, relata a musicoterapeuta do Sírio-Libanês, Juliana Carvalho. "A mágica é justamente essa capacidade da música de acionar respostas cerebrais via emoções positivas."

SAIBA MAIS

O que é musicoterapia?

A utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) com objetivos terapêuticos. A técnica se apoia nas respostas cerebrais frente aos estímulos musicais e pode ser realizada individualmente ou em grupo.

Como a música gera resposta cerebral?

Ao ouvir música, seu cérebro:

  • estimula a produção de neurotransmissores ligados ao prazer, como a dopamina;

  • ativa funções de memória e atenção;

  • faz conexões com experiências carregadas de emoção e afeto;

  • ativa áreas relacionadas às habilidades linguísticas e motoras;

Tipos de intervenções

  • Manejo do estresse com música ao vivo ou gravada
  • Criação de canções ou composição
  • Audição musical de canções ou peças instrumentais pré compostas ou inéditas
  • Jogos musicais
  • Performance terapêutica vocal em grupo
  • Criação e produção musical com uso de tecnologia

Indicado para o tratamento de:

  • Doença de Alzheimer;

  • Doença de Parkinson;

  • Transtorno do Espectro Autista;

  • Déficits de linguagem, cognitivos ou motores;

  • Deficiências visuais ou auditivas;

  • Depressão;

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC);

  • Outras doenças degenerativas ou situações que envolvem perda de função cerebral

Onde a prática pode acontecer:

  • Hospitais

  • Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs)

  • Centros de reabilitação

  • Centros psiquiátricos

  • Presídios

  • Escolas

  • Empresas

  • Nas casas dos pacientes


Fontes: Federação Mundial de Musicoterapia; Tarik Bispo, musicoterapeuta do Residencial Club Leger; Tereza de Melo Alcântara Silva, professora do curso de Musicoterapia da UFG; Juliana Duarte Carvalho, musicoterapeuta do Núcleo de Cuidados Integrativos do Hospital Sírio Libanês.

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