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Medo de contágio faz pais evitarem mandar filhos para a escola em SP

Aulas presenciais no estado de São Paulo estão autorizadas desde o dia 12 de abril

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São Paulo

Por medo de contaminação pelo coronavírus, algumas famílias têm optado por não mandar os filhos de volta de volta para as escolas, mesmo depois da reabertura das unidades de ensino. No estado de São Paulo, as atividades presenciais nos colégios estão liberadas desde o dia 12, depois que a gestão João Doria (PSDB) encerrou a fase emergencial do plano de combate à Covid-19.

Mães de crianças e adolescentes ouvidas pela reportagem avaliam que as progressões das fases do Plano São Paulo não são suficientes para que elas decidam por tirar os filhos do ensino remoto.

Na rede privada, as aulas presenciais começaram já no dia 12, mesma data de início nas escolas municipais da capital paulista. No estado, porém, os estudantes voltaram às unidades a partir de quarta-feira (14).

Mãe de dois alunos matriculados em uma escola particular da zona leste, a consultora comercial Fernanda Prada, 39 anos, optou por manter em casa os filhos, Micaela, de 11, e Hermes, de 6.

Desde o início da pandemia, no ano passado, a menina chegou a ir ao colégio em duas ocasiões, mas a mãe não sentiu segurança em relação aos protocolos sanitários. "Em uma aula, um professor pediu para o aluno tirar a máscara pra falar, pois não estava entendendo o que ele dizia. Na outra, a sala inteira foi [no mesmo dia] e não foram respeitados os limites de distanciamento", diz Fernanda.

"Sinto que os professores também não estavam preparados para o retorno. Foi bem bagunçado", acrescenta.

A consultora comercial Fernanda Prada, 39 anos, com os filhos Micaela, 11, e Hermes, 6; ela preferiu manter as aulas online em casa, mesmo com a liberação das aulas presenciais em todo o estado - Rivaldo Gomes/Folhapress

A professora Vanessa Azevedo Brisida, 41 anos, chegou a pensar, no início deste anos, a mandar seus filhos de volta para as aulas presenciais na escola particular em que estudam, em Mauá (ABC). Porém, desistiu depois de ir a um hospital privado em Santo André e conversar com uma enfermeira a respeito da situação na região.

"Ela me disse que a parte infantil do hospital estava sobrecarregada, que o hospital como um todo estava superlotado e que muitas crianças estavam ficando com sequelas da Covid. Aí desisti na hora", lembra ela, que é mãe de dois filhos.

A gerente de projetos Thaís Félix, 36 anos, mãe de uma menina de 8, diz que só mandaria a filha novamente ao colégio, em Perdizes (zona oeste), "em uma situação em que as internações e os números de casos começarem a cair".

"A ideia é que isso aconteça quando arrefecer os números de casos e internações, e quando as medidas como vacinação e isolamento trouxerem resultados", complementa.

Médico cita necessidade de monitoramento dos casos

O epidemiologista André Ribas de Freitas, professor da faculdade São Leopoldo Mandic, afirma que há riscos de infecção na escola, mas que, para diminuir as possibilidades de contaminação, é necessário adotar um protocolo adequado para monitoramento, rastreamento e isolamento das pessoas que tiveram contato com pacientes que testaram positivo para a doença.

Isso porque, segundo o médico, não adianta fazer o isolamento das pessoas somente quando estão sintomáticas. "A transmissão começa dois dias antes do surgimento dos sintomas. Se isolar no primeiro dia, metade do que ela poderia transmitir ela já transmitiu."

O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo, Benjamin Ribeiro da Silva, garante que os colégios particulares oferecem um ambiente seguro para os estudantes e funcionários. "O aluno vai estar mais protegido lá do que na casa dele", diz.

Para permitir que as unidades de ensino operem com somente 35% de suas capacidades, Ribeiro explica que será dada prioridade às crianças de zero a oito anos, que, segundo ele, "têm mais dificuldade com a tecnologia". No ensino fundamental 2 e no médio, os estudantes ficarão no modelo híbrido, indo ao colégio uma ou duas vezes na semana.

Mães apontam falhas no ensino remoto

Implementado às pressas por conta do rápido avanço do coronavírus no Brasil, o ensino a distância nas escolas é alvo de críticas por parte das famílias. As queixas são ainda maiores quando se trata de unidades de ensino públicas.

A diarista Rute de Jesus Sant Ana, 48 anos, considera que seu filho mais novo, de 11 anos, "não aprendeu nada" com as aulas virtuais. O garoto está no 6º ano no ensino fundamental e estuda em uma escola estadual em Carapicuíba, na Grande São Paulo.

"Ele fala que não conseguiu fazer nada. Estou desde fevereiro tentando enviar as lições que ele faz, mas não consigo. Já pensei até em comprar uma impressora para imprimir as atividades e levar na escola", diz.

Rute avalia que esse período longe do colégio irá provocar consequências no aprendizado do garoto. "Sinceramente, se tivesse reprovação, eu preferia que ele repetisse de ano. Ele está na sexta série e não sabe praticamente nada", lamenta.

Mesmo com a volta presencial das aulas na rede estadual, ela ainda não pretende mandar o filho de volta ao colégio justamente pelo medo da contaminação no caminho até a unidade de ensino. "A escola é longe e ele tem que pegar ônibus. Se ele não precisasse do transporte público, eu mandaria", admite.

A corretora de seguros Amanda Dian, 39 anos, tem uma filha de 5 anos na educação infantil da rede municipal de São Paulo. Ela também faz críticas ao método de ensino virtual. "Não tem aula. Eles só mandam a criança assistir a um vídeo e dizer que entendeu. O conteúdo que está vindo para minha pequena é só isso", reclama.

Apesar da queixa, ela também não pretende tirar a criança de casa neste momento por causa da outra filha dela, de 13 anos. "Ela tem um problema de saúde e eu não posso arriscar."

Especialista diz que escolas terão que refazer planejamento pedagógico

O coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Curcio, reconhece problemas no ensino remoto - principalmente na rede pública - e no fato de muitas crianças e adolescentes estarem há um longo período de tempo sem aulas presenciais. Por esse motivo, avalia que as escolas terão de refazer seus planejamentos pedagógicos.

"Há uma defasagem em relação ao conteúdo planejado inicialmente. Houve perda? Isso é discutível. Mas algumas coisas, de fato, não foram atingidas", diz o professor, que cita um exemplo: "a criança com seis anos, no 1º ano, deveria iniciar alfabetização. No 2º, deveria começar o processo de letramento. No 3º, já deveria estar alfabetizada e letrada. Será que isso aconteceu? eu diria que, provavelmente, não."

Essa situação, segundo Curcio, acaba gerando uma "bola de neve", principalmente para os alunos que estão no fim dos ciclos fundamental 2 e médio. No caso dos concluintes do ensino médio, ele avalia que as próprias universidades terão de ajudar a recuperar a defasagem dos novos estudantes com aulas de reforços para temas que deveriam ter sido abordados no colégio.

O secretario da Educação, Rossieli Soares, fala com alunos na Escola Estadual Leopoldo Santana, na zona sul da capital paulista - Rivaldo Gomes/Folhapress

Estado e prefeitura citam melhorias nas plataformas

A coordenadora do Centro de Mídias do governo de São Paulo, Bruna Waitman, explica que, desde o início da implementação do ensino remoto, a plataforma utilizada na rede estadual vem passando por melhorias para facilitar o acesso dos alunos.

Segundo Bruna, a ferramenta possui um gerenciador de tarefas que possibilita que os professores saibam os conteúdos que os estudantes têm mais dificuldade ou facilidade. Em abril, a rede estadual iniciará uma recuperação para 500 mil alunos. "Eles vão ter uma hora e 45 minutos a mais para recuperar aprendizagem", informa. A ação será feita por meio do Centro de Mídias.

Na rede municipal da capital paulista, a secretária adjunta da Educação, Minéa Fratelli, garante que "os professores acompanham muito de perto a aprendizagem" e que "os estudantes que acessam o conteúdo online têm tido resultados razoáveis". "Nosso desafio é entender como foi a aprendizagem dos que tiveram pouco ou nenhum acesso", diz.

Sobre a reclamação feita a respeito do conteúdo na educação infantil, Minéa diz que, nessa fase, "as situações de aprendizagem se dão por meio de interação". "Não há uma lição. O que aconteceu na pandemia é que essa interação se dá em casa com a atuação dos pais", diz. Segundo ela, as atividades são mais lúdicas, como brincadeiras, músicas e contação de histórias.

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