Polícia e política não se misturam

Não dá para aceitar que ofensa vire caso de polícia em estádio

Não é novidade que uma parcela menor de maus policiais comete desvios, excessos e até crimes. Quase sempre as vítimas são os mais pobres, moradores de favelas e periferias.

Jogo do Corinthians contra o Cruzeiro em Itaquera (zona leste) - Danilo Verpa/Folhapress

Alguns abusos recentes, porém, têm deixado muita gente ressabiada. O caso que mais ganhou destaque na imprensa foi o de um torcedor corintiano no Itaquerão. No último domingo (4), ele foi retirado à força das arquibancadas após gritar palavrões contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que assistia à partida.

A versão da PM é, no mínimo, estranha: alegou que a atitude poderia provocar reação de apoiadores do presidente e acabar em confusão. Não se discute que torcedores muitas vezes exageram, mas não dá para aceitar que qualquer ofensa vire caso de polícia nos estádios.

Um dia antes, no sábado (3), também em São Paulo, dois PMs abordaram militantes do PSOL, que faz oposição a Bolsonaro e ao governador João Doria (PDSB), num encontro de mulheres do partido. Sem ordem judicial, foram até o local e pediram documentos e nomes dos presentes. Agiram como se uma reunião política fosse algo proibido.

No mês passado, no dia 23, foi a vez de três policiais rodoviários federais entrarem na sede de um sindicato de servidores da Educação, em Manaus, para intimidar um grupo que organizava um protesto contra Bolsonaro, que faria uma visita à capital do Amazonas.

Nos últimos meses ocorreram outros casos semelhantes. É preocupante saber que alguns agentes estão tomando decisões conforme posições políticas. Mas também é preciso condenar certos discursos de autoridades, como alguns governadores e o próprio presidente, que acabam incentivando essa prática.

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