Colcha de retalhos

É comum entre os presidentes aproveitar o palanque anual de abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York (EUA), para tratar de assuntos que interessam apenas aos brasileiros.

Em sua estreia, Jair Bolsonaro (PSL) manteve a escrita. Mas esteve longe de adotar o tom moderado que muitos esperavam. Mais uma vez, o presidente pregou aos convertidos e radicalizou no discurso. Ele parece ter desistido de ampliar o seu apoio popular, o que pediria uma fala mais amena.

Bolsonaro foi Bolsonaro. Em meia hora de apresentação, voltou a dizer que o Brasil estava à beira do "socialismo" quando ele venceu as eleições. Lembrou também de um tal Foro de São Paulo, que ameaçaria a democracia no país. São histórias sem pé nem cabeça.

Sobrou também, é claro, para a imprensa, chamada de mentirosa e partidária --uma ladainha que agrada a seus fãs mais fervorosos. Críticas a ONGs, à quantidade de terras indígenas e aos supostos interesses estrangeiros na Amazônia não ficaram de fora, como já é hábito em suas declarações.

De olho em igrejas e pastores, uma de suas principais bases políticas, Bolsonaro citou o Evangelho de João, solidarizou-se com os perseguidos por motivos religiosos e invocou Deus quatro vezes.

Sem muita empolgação, fez referências à intenção de abrir a economia brasileira ao exterior, mas ignorou, por exemplo, o avanço da reforma da Previdência Social no Congresso, principal conquista de seu mandato até agora.

Como o objetivo era reforçar os laços de Bolsonaro com os grupos que sustentam o governo, o resultado final foi uma colcha de retalhos. E mal costurada.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, discursa durante a abertura do Debate Geral da 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York (EUA) - Alan Santos/PR

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