A morte de Ágatha

A morte de Ágatha Félix, 8 anos, que comoveu o país, ainda precisa ser esclarecida. Segundo testemunhas, o tiro de fuzil que atingiu as costas da menina em uma favela do Rio, na sexta (20), partiu de um PM. Já na versão da corporação, os policiais reagiam a um ataque.

O fato é que, há décadas, inocentes de todas as idades são vítimas de ações policiais irresponsáveis, para dizer o mínimo, principalmente em bairros pobres dominados pelo tráfico de drogas. Quando alguém é ferido ou morto, vem a desculpa fácil da "bala perdida".

Nota-se, no conjunto do Brasil, um avanço da truculência. A polícia está matando mais: no Rio, por exemplo, foram 1.249 mortos entre janeiro e agosto deste ano --um aumento de 16% em relação ao mesmo período de 2018.

É impossível não relacionar tudo isso ao incentivo de autoridades, como o presidente da República e os governadores do Rio e de São Paulo (este, em menor grau). Apostam no confronto armado como política de segurança pública. 

A indignação com a morte de Ágatha revela um cansaço por parte da sociedade contra abusos cometidos supostamente em nome da lei e da ordem.

O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), parece não pensar assim. Como num videogame de guerra, ele age como se fosse possível acabar com os traficantes na base do tiro --sabe-se, no entanto, que o desafio é muito mais complexo.

Após mais essa tragédia, há pelo menos um alento. No pacote anticrime, proposto pelo ministro Sergio Moro (Justiça), um dispositivo praticamente concede carta branca aos excessos policiais. Ficou mais difícil aprová-lo no Congresso.

De imediato, espera-se que os responsáveis sejam devidamente punidos.

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