O bar do Estadão, um dos mais tradicionais da capital paulista, vai fechar as portas pela primeira vez em 51 anos, por causa da quarentena decretada pelo governo do estado, que começa nesta terça-feira (24).
Até o momento, o local só não abria ao público no Réveillon. Já nos demais dias do ano, funcionava 24 horas, de segunda a domingo, servindo o tradicional lanche de pernil e a clássica coxa creme, acompanhados da famosa pimenta malagueta da casa.
Funcionário do Estadão há cerca de 30 anos, o gerente Cícero Tiezzi afirmou que o bar irá interromper o atendimento ao público, incluindo serviços de entrega, a partir das 22h desta segunda-feira (23). “É um sentimento muito triste ter que fechar até o fim da quarentena [7 de abril], mas é importante fazer isso logo para podermos voltar a funcionar o quanto antes também”, afirmou.
Tiezzi acrescentou que o movimento no bar foi caindo paulatinamente, quando a pandemia de coronavírus foi anunciada. Na última semana, acrescentou, o movimento arrefeceu cerca de 70% no comércio.
Fundado em 5 de dezembro de 1968, o bar Estadão é garantia de comida boa para pessoas que frequentam a noite paulistana. No local é possível comer desde sanduíches a refeições fartamente servidas em qualquer horário do dia e da noite.
“Aqui vem gente que sai da balada, mas principalmente profissionais que fazem plantão na madrugada, como profissionais da saúde, policiais e gente que faz manutenção nas ruas para a prefeitura”, explicou o gerente.
Neste domingo (22), acrescentou Tiezzi, foram consumidas dez peças de pernil, usado como recheio para o principal lanche da casa. “Em dias normais, são consumidas entre 30 e 35 peças”, explicou.
Ele ainda garantiu que nenhum dos 60 funcionários da casa foram ou serão demitidos.
Garantia de comida fresca
Daniel Miranda Filho, 68 anos, comerciante que frequenta o bar desde 1972, quando abriu uma papelaria nas proximidades, ficou espantado quando a reportagem disse que o comércio iria fechar por causa da pandemia do Covid-19. Ele está de quarentena em uma casa de campo, em São Roque (66 km de SP).
“Vou no Estadão quase todos dos dias, há 48 anos, para comer um sanduíche ou refeição. Comecei a frequentar o bar quando ele ainda funcionava em um pequena portinha. Comer lá é garantia de comida fresca, como a que é feita em casa”, comentou.
Ele acrescenta que o jogador de futebol Sócrates, do Corinthians, costumava ir ao local de carro, onde permanecia aguardando que uma funcionária fosse buscar os clássicos sanduíches de pernil da casa. “Ele [Sócrates] evitava ficar em meio às pessoas, principalmente após jogos, para não ser assediado. Mas não abria mão do sanduíche”.
Filho afirmou ser amigo pessoal dos proprietários do bar que, segundo ele, o ensinaram conceitos de administração e responsabilidade empresarial.
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