A imobiliária do crime

Não é de hoje a omissão do poder público diante de loteamentos clandestinos que se espalham pelas periferias das cidades da Grande São Paulo. Muitas vezes os compradores desses terrenos irregulares, em áreas de mananciais, são extorquidos por bandidos.

Tudo, porém, sempre pode piorar. Conforme reportagem publicada no Agora, a facção criminosa que comanda o tráfico de drogas e os presídios paulistas já entrou nesse lucrativo negócio.

A quadrilha está patrocinando invasões em prédios de habitação popular construídos pelo governo do Estado. Esses terrenos deveriam ter proteção ambiental, já que garantem a reposição de lençóis freáticos e represas.

Além dos riscos ao abastecimento de água e do prejuízo ao patrimônio público, a investida da facção aumenta a insegurança da população mais pobre e toma o seu dinheiro --os criminosos exigem pagamento de taxas de proteção aos moradores e comerciantes.

De 90 loteamentos que estariam sob comando da organização, 46 se encontram na zona sul da região metropolitana, área com grande concentração de mananciais para abastecimento. Em uma dessas ocupações, nem mesmo a Polícia Militar consegue entrar.

O fenômeno de perda de controle do Estado sobre áreas urbanas é conhecido pelo exemplo do Rio de Janeiro, com suas milícias assassinas que exploram serviços de gás, TV a cabo e suposta proteção.

A impotência do governo paulista ainda não levou a situação ao estágio terminal do Rio de Janeiro. Ainda. Espera-se agora que a entrada da facção no ramo imobiliário sirva de alerta para, enfim, começar a corrigir esse abandono que as periferias enfrentam há décadas.

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