Uma decisão amalucada. Assim pode ser classificada a censura imposta pelo desembargador Benedicto Abicair, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao grupo humorístico Porta dos Fundos.
O magistrado mandou às favas a liberdade de expressão, um direito garantido na Constituição, ao proibir a veiculação de um filme da trupe. Na sátira, em cartaz no Netflix, Jesus é retratado como homossexual em uma trama na qual ele comemora seu aniversário e recebe entidades de outras religiões.
Decisões judiciais como essa costumam durar pouco e têm efeito contrário: acabam atraindo ainda mais atenção e curiosidade para a obra censurada.
Desta vez, o desatino não resistiu nem 30 horas. Coube ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, derrubar a liminar na noite desta quinta (9).
Manifestações sobre a moral e a religião jamais serão objetivas na avaliação dos homens que interpretam a lei. É por isso que elas não precisam ser tuteladas. Basta que circulem livremente, onde serão criticadas, elogiadas ou simplesmente ignoradas pela sociedade.
Humor agressivo, com elementos religiosos, é feito há milênios. Com o perdão do trocadilho, o filme censurado chuta uma porta arrombada. Mas, claro, ainda há quem dê risada de suas piadas.
Por outro lado, são legítimos os argumentos dos que condenam o mau gosto, o exagero e os ataques banais à fé alheia, assim como as campanhas de boicote.
O que não dá para tolerar, porém, é o uso da força para tanto --como o atentado que o grupo sofreu quando tentaram incendiar o prédio da produtora.
A mesma crítica vale para a violência do Estado, que cala, censura e tira do ar. Afinal, assiste quem quer.
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