O avanço do coronavírus parece ter convencido Jair Bolsonaro a usar máscara e álcool em gel, mas não a adotar mais prudência e moderação em suas declarações e atitudes.
Dois dias após sugerir que o vírus era uma fantasia criada pela imprensa, o presidente rendeu-se aos fatos diante da contaminação de seu secretário de Comunicação. Em dois pronunciamentos na quinta (12), Bolsonaro reconheceu a gravidade da situação e disse que o governo está preparado para controlá-la.
Mas, sem detalhar medidas ou dar orientações para tranquilizar a população, ele logo passou ao assunto que realmente o preocupava e sugeriu o adiamento das manifestações programadas por seus seguidores para domingo (15).
O próprio Bolsonaro vinha insuflando os protestos, que tinham o Congresso como alvo, e voltou à carga ao pedir que os apoiadores fiquem em casa para conter a disseminação do vírus.
A sugestão foi acatada pelos organizadores dos atos, mas o presidente fez questão de enaltecer a iniciativa suspensa. "Foi dado um tremendo recado para o Parlamento", declarou. É fácil perceber que Bolsonaro fabricou mais uma crise com o objetivo de intimidar o Legislativo, parte de um esforço permanente para desgastar as instituições.
Essas provocações atrapalham a capacidade de enfrentar os verdadeiros problemas do país, como a economia que não deslancha e a crise do coronavírus.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu medidas emergenciais e cobrou empenho do Congresso para aprovar reformas propostas pelo governo. Pode ser o início de um diálogo mais produtivo, mas será impossível se Bolsonaro continuar apostando no tumulto."‹
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