Todos os anos o Brasil é castigado por uma rotina de catástrofes provocadas por temporais. Essas desgraças revelam o nosso atraso social e econômico e o descaso do poder público.
As chuvas deixam um rastro de mortes, desabrigados e desespero. Na maioria das vezes as vítimas são as classes mais pobres, empurradas para moradias precárias em locais de alto risco.
Desta vez a devastação atingiu a Baixada Santista, até terça-feira (3) com um número incerto de mortos e de famílias prejudicadas. Seja no litoral paulista, na várzea dos rios imundos de São Paulo ou nos morros do Rio de Janeiro, tais tragédias provocam revolta e indignação.
Há sinais claros de que as mudanças climáticas tendem a piorar esse quadro. Mas não é só disso que se trata. É preciso expor também a incompetência de governantes e autoridades em promover políticas habitacionais efetivas e em conter, por meio de alternativas viáveis, a ocupação de áreas de risco.
É espantoso que ainda se ouçam no Brasil tentativas de atribuir a quem vive em condições miseráveis a responsabilidade direta pela situação. Foi o que insinuou, por exemplo, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos). "As pessoas gostam de morar ali perto dos talvegues [linha mais baixa de um vale por onde escorre a água da chuva e das nascentes] para gastar menos tubo e colocar cocô e xixi e ficar livre daquilo. Essas áreas são muito perigosas", disse.
O cenário atual exige pronta e e eficaz atuação do poder público para ao menos minimizar os estragos. A mais relevante das medidas, no entanto, parece muito difícil de acontecer: o fim do descaso histórico da elite política para com as populações mais necessitadas.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.