O governo Jair Bolsonaro se arrisca a provocar uma crise maior ao agir de modo vacilante no caso dos policiais militares amotinados no Ceará.
No sábado (29), o ministro Sergio Moro, da Justiça, disse o óbvio: o movimento é ilegal, já que a Constituição veda expressamente a greve de militares. Ainda assim falou cheio de dedos. "Claro que o policial tem de ser valorizado, claro que o policial não pode ser tratado de maneira nenhuma como um criminoso."
Com boa vontade, a declaração pode ser interpretada como um esforço de conciliação. Só que outros sinais de Brasília mostram, isso sim, simpatias com os pleitos dos rebelados.
Na quinta-feira (27), Bolsonaro sugeriu que poderia não prorrogar a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) por meio da qual forças federais estavam mobilizadas no Ceará desde o dia 21. "GLO não é para ficar atendendo eternamente a um ou mais governadores."
Além disso, o presidente cobrou do Congresso a aprovação de projeto que abranda penas para agentes que matem em casos tidos como legítima defesa.
A sinalização de complacência do Palácio do Planalto despertou, felizmente, a reação de governadores, da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Diante da pressão, Bolsonaro cedeu e decidiu manter a GLO.
O governador cearense, Camilo Santana (PT), tem se negado a conceder a anistia reivindicada pelos amotinados. A violência explodiu no estado.
Um precedente perigoso pode ser aberto, enquanto PMs manifestam insatisfação em outras unidades da Federação. Se ficar omisso ou mostrar conivência, o governo Bolsonaro estará semeando insegurança pública.
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