Por breves sete minutos e quatro segundos, na noite de terça-feira (31), o Brasil parecia ver um presidente capaz de conduzi-lo em meio à imensa crise sanitária e econômica por que passa.
Foi esta a duração do discurso de Jair Bolsonaro em rede nacional. Surpreendentemente, foi ponderado, razoável e objetivo. Chamou a atenção não só pelo que disse, mas pelo que deixou de dizer.
A maluquice de classificar a Covid-19 de resfriadinho ou gripezinha não surgiu desta vez. Nem mesmo a imprensa, habitual saco de pancadas, foi lembrada.
No lugar, um irreconhecível Bolsonaro disse estarmos "diante do maior desafio de nossa geração". Também acenou às demais autoridades, com quem vive às turras, ao pregar um "grande pacto de preservação da vida e dos empregos".
Infelizmente, durou pouco. Logo depois, Bolsonaro fez elogios à ditadura nas redes sociais e voltou a criticar as medidas de isolamento, adotadas no mundo todo. Reclamou dos governadores e até espalhou fake news sobre desabastecimento em Minas Gerais, que não houve.
De fato, o Brasil passa pelo desafio de uma geração --a dos confinados, que têm de pagar as contas; a de seus filhos, isolados em casa; a dos idosos, sem convívio familiar e social; a dos empobrecidos pela quarentena; a dos que vivem em condições subumanas em favelas.
Precisa-se de um estadista como o ex-premiê Winston Churchill, que, durante a Segunda Guerra Mundial, disse aos britânicos que só tinha a oferecer "sangue, labuta, suor e lágrimas" --e conduziu seu país a uma vitória improvável.
Na falta de algo parecido, que ao menos o Brasil contasse com o presidente do discurso. Infelizmente, aquele era a exceção; o que voltou à ativa, a regra.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.