Na base da bravata, Jair Bolsonaro prometeu há nove meses revelar suas despesas pessoais pelo cartão a que tem direito como presidente.
"Eu vou abrir o sigilo do meu cartão. Para vocês tomarem conhecimento de quanto gastei de janeiro até o final de julho. OK, imprensa?", anunciou, em 8 de agosto do ano passado. "Vou com vocês, na boca do caixa, digito a senha e vai aparecer todo meu gasto."
Como de hábito, a encenação de valentia --em resposta, na época, a alguma fofoca de rede social-- deu em nada.
A promessa foi convenientemente esquecida, e os pagamentos realizados permaneceram desconhecidos mesmo quando o Supremo Tribunal Federal, em 7 de novembro, derrubou uma norma da ditadura militar que permitia à Presidência manter segredos como esse.
Desta vez, o Planalto se viu forçado a apresentar alguma explicação formal. Alegou-se, com base em outra legislação, que informações capazes de pôr em risco a segurança do presidente e de seus familiares devem ficar reservadas.
Mas Bolsonaro decidiu voltar ao tema no desvairado pronunciamento de 24 de abril, quando respondeu a acusações de ingerência na Polícia Federal. No esforço para se mostrar honesto, disse não ter usado um cartão, entre três que possui, que lhe permite gastar R$ 24 mil mensais. A veracidade dessa afirmação não pode, infelizmente, ser aferida.
Os dados disponíveis permitem constatar, porém, que as despesas com cartões presidenciais cresceram na atual gestão e chegaram ao recorde de R$ 1,9 milhão em fevereiro --do qual R$ 739 mil, segundo o presidente, com o resgate de brasileiros na China. Mais que isso não se sabe, porque é segredo.
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