Tiro pela culatra

Não foi promissor o início do megarrodízio de veículos implementado na capital paulista para tentar conter o avanço da epidemia de Covid-19.

Em vigor desde segunda-feira (11), a medida ampliou a restrição para 50% da frota, em toda a metrópole, e também passou a valer durante o dia inteiro.

Num momento em que o índice de distanciamento social vinha rondando parcos 50%, esperava-se que um rodízio mais rígido reduzisse os deslocamentos.

Mas não é o que tem ocorrido. Segundo a prefeitura paulistana, cerca de 1,5 milhão de automóveis deixaram de transitar e quase não há congestionamentos. Já as linhas de ônibus registraram de 135 mil a 270 mil usuários a mais nos primeiros dias --enquanto trens e metrô, uma demanda até 15% maior.

E, pior, o índice de distanciamento social manteve-se praticamente inalterado, registrando meros 47% na terça-feira (o índice mínimo ideal seria 70%).

A aglomeração de passageiros pode facilitar a transmissão do vírus. Tamanha migração sugere que parte considerável dos deslocamentos atuais não é por motivos supérfluos, mas por necessidade. O desconhecimento da prefeitura sobre a natureza da circulação na cidade deixa evidente a falta de estudos que justifiquem medida tão polêmica.

As pressões para derrubar o novo rodízio, inclusive com ações na Justiça, já ganham força em São Paulo. O prefeito Bruno Covas (PSDB) deve ter o bom senso de repensar o novo rodízio.

Apesar dos esforços municipais, o fato é que as alternativas vão se esgotando, e cerca de 85% dos leitos de UTI reservados para o tratamento de Covid-19 estão ocupados na Grande São Paulo. Será difícil evitar um confinamento mais duro.

Movimento de passageiros para pegar ônibus no Terminal Tatuapé, na zona leste de SP, no início da noite do primeiro dia do megarrodízio de veículos na capital paulista - Eduardo Knapp - 11.mai.20/Folhapress

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