Se há um padrão que se repete em todos os governos brasileiros, desde a volta da democracia, é a criação de ministérios. Mesmo presidentes que começaram seus mandatos reduzindo o número de pastas acabaram recuando.
Esses foram os casos de Fernando Collor (1990-92), do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e, agora, de Jair Bolsonaro, que resolveu recriar o Ministério das Comunicações —cuja serventia ninguém sabe dizer qual é.
Ou melhor, o órgão terá utilidade, mas basicamente para os políticos, incluindo o próprio presidente, e seus cupinchas. Bolsonaro, no caso, trata de atrair a turma do centrão para escapar de um processo de impeachment que já é amplamente discutido na sociedade.
Não é necessariamente errado distribuir cargos entre os aliados para governar. Uma democracia, afinal, funciona com divisão de poder e negociações entre forças e pensamentos diferentes.
O melhor jeito de fazer isso é formar uma aliança em torno de um programa de governo, acertado entre os partidos envolvidos, e separar devidamente os cargos políticos e os de natureza técnica.
Não é o que faz Bolsonaro. Primeiro ele veio com a promessa irrealista de ter apenas 15 ministérios e não aceitar indicações partidárias; agora que sua batata está assando, o número de pastas vai subir de 22 para 23, e os cargos vão sendo loteados na base da correria.
Com esse tipo de barganha na bacia das almas, o presidente pode até ganhar mais fôlego contra o impeachment, mas se mantém longe de estabelecer uma relação mais produtiva com o Congresso. E ainda é duvidoso se vai durar a relação entre a turma do toma lá dá cá e um governo que vive de inventar crises.
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