Os movimentos que buscam conter os rompantes autoritários de Jair Bolsonaro são promissores, mas ainda têm muito chão a percorrer. Foi o que revelaram os protestos realizados no domingo (7) em diversas cidades do país.
Estimular as pessoas a ocuparem as ruas em plena pandemia de Covid-19 já era uma decisão questionável e perigosa. Ainda assim o público nas capitais foi significativo, mas não se compara, por exemplo, ao das manifestações em defesa da educação no ano passado.
De todo modo, é louvável o caráter pacífico dos atos. A única exceção foi um pequeno confronto com a PM na capital paulista, já no final da manifestação.
O governo Bolsonaro, tudo indica, quer carimbar nos movimentos os rótulos da baderna e da perseguição política --o que serve tanto para atiçar seus apoiadores mais fanáticos quanto para buscar aliados entre militares e policiais.
Na semana passada, o presidente chegou a chamar de "terroristas" os organizadores dos protestos. O que de fato ameaça Bolsonaro, contudo, é a contínua desmoralização de seu governo e o acúmulo de questionamentos cada vez mais graves em relação a sua conduta.
Alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal devido à escandalosa interferência na Polícia Federal, entre outros problemas jurídicos, e com sustentação frágil no Congresso, Bolsonaro já amargou a primeira alta importante de sua reprovação com os impactos da pandemia.
Com o desemprego alto e a economia em frangalhos, as perspectivas para o restante do mandato são sombrias. Os movimentos da sociedade mostram a vitalidade da democracia --o que só é má notícia para um presidente em conflito com as instituições, se não com as ruas.
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