A boiada de Salles

Das áreas do governo de maior importância para a pauta ideológica do bolsonarismo, foi no meio ambiente que se produziram estragos com mais método.

Ao contrário de Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (ex-Educação), Ricardo Salles não é de conversa fiada.

O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, acompanhado de parlamentares do DF, visita área do Parque Nacional de Brasília, Área de Proteção Ambiental do DF após participar do anúncio de novos investimentos na infraestrutura do parque - Pedro Ladeira - 30.jul.2020/Folhapress


O ministro é articulado, conhece a máquina pública, tem experiência política e traquejo com empresários, competências raras na gestão Bolsonaro. Isso fica claro no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril.

Na gravação, Salles é o único a apresentar um plano objetivo para o seu setor: aproveitar as atenções desviadas pela pandemia para avançar nas reformas infralegais do controle ambiental, ou seja, as que não dependem do Congresso.

“Ir passando a boiada”, nas suas palavras, não era bravata. Levantamento do jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o Instituto Talanoa, aponta que 195 normas de política ambiental foram publicadas no Diário Oficial de março a maio. No ano passado, foram só 16 no mesmo período.

Salles afirmou que essas reformas teriam o objetivo de “modernizar” a área ambiental, mas os resultados falam por si.

A ideia de mudar ao máximo as normas que não passam pelo Congresso não é nova. O próprio Bolsonaro já andou abusando da edição de decretos, alguns deles derrubados pelo Judiciário. Mas foi assim que ele conseguiu, por exemplo, ampliar o acesso da população a armas de fogo, embora não tanto quanto queria.

No caso de Salles, o tiro saiu pela culatra. O afrouxamento do controle resultou numa disparada do desmatamento, alarme global e pressão de investidores sobre o Planalto. Impactos assim não se disfarçam em letras miúdas do Diário Oficial.

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