Das áreas do governo de maior importância para a pauta ideológica do bolsonarismo, foi no meio ambiente que se produziram estragos com mais método.
Ao contrário de Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (ex-Educação), Ricardo Salles não é de conversa fiada.
O ministro é articulado, conhece a máquina pública, tem experiência política e traquejo com empresários, competências raras na gestão Bolsonaro. Isso fica claro no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril.
Na gravação, Salles é o único a apresentar um plano objetivo para o seu setor: aproveitar as atenções desviadas pela pandemia para avançar nas reformas infralegais do controle ambiental, ou seja, as que não dependem do Congresso.
“Ir passando a boiada”, nas suas palavras, não era bravata. Levantamento do jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o Instituto Talanoa, aponta que 195 normas de política ambiental foram publicadas no Diário Oficial de março a maio. No ano passado, foram só 16 no mesmo período.
Salles afirmou que essas reformas teriam o objetivo de “modernizar” a área ambiental, mas os resultados falam por si.
A ideia de mudar ao máximo as normas que não passam pelo Congresso não é nova. O próprio Bolsonaro já andou abusando da edição de decretos, alguns deles derrubados pelo Judiciário. Mas foi assim que ele conseguiu, por exemplo, ampliar o acesso da população a armas de fogo, embora não tanto quanto queria.
No caso de Salles, o tiro saiu pela culatra. O afrouxamento do controle resultou numa disparada do desmatamento, alarme global e pressão de investidores sobre o Planalto. Impactos assim não se disfarçam em letras miúdas do Diário Oficial.
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