O código de cores usado no Plano São Paulo é fácil de entender, mas não dá para o dizer o mesmo de seus critérios.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afrouxou as regras da quarentena no estado, medida que chamou de “calibragem técnica”. Antes, no máximo 60% dos leitos de UTI de determinado município deveriam estar ocupados por infectados com Covid-19 para que o local passasse à chamada fase verde, menos restrita. Com a ação de Doria, a porcentagem subiu para 70 a 75%. Mesmo assim, nenhuma região do estado chega lá.
Também há agora limites para internações (40 por 100 mil habitantes) e mortes (5/100 mil) em intervalos de 14 dias.
O governo diz embasar suas políticas nas opiniões dos cientistas, e não na pressão crescente de prefeitos e empresários. Tomara que seja assim.
Os óbitos recuaram na capital, mas dispararam no interior —e, mesmo na cidade de São Paulo, os dados não inspiram confiança. Uma pesquisa realizada no município mostrou que 11,1% da população já teria entrado em contato com o Sars-CoV-2, o que equivaleria a 1,32 milhão de paulistanos —na estatística oficial são 182 mil.
Isso prova que se testa pouco e mal em São Paulo, como em todo o país. Sem orientação do governo federal, as gestões locais atuam na base de tentativa.
Mesmo se embasado em especialistas, o relaxamento extra irá reforçar a percepção geral de que a epidemia está sob controle. Com 270 mortes por dia no estado, não é o caso.
Ninguém nega a importância de reabrir a economia, mas falta clareza quanto ao momento de adotar essas medidas. Erros de cálculo baseados na ansiedade ou no excesso de confiança serão pagos com mais mortes evitáveis do que já colhemos.
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