A escapada de Weintraub

Depois de trocar uma gestão desastrosa no MEC por uma boquinha no Banco Mundial, Abraham Weintraub correu do país em circunstâncias também embaraçosas para o governo Jair Bolsonaro.
O ex-ministro desembarcou nos EUA em 20 de junho, apenas dois dias após o anúncio de sua demissão —e apesar das restrições impostas na pandemia O Itamaraty confirmou agora ter pedido um visto para ele à embaixada americana.

A pasta das Relações Exteriores disse que seguiu um procedimento normal, mas a história continua esquisita.

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O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub pouco depois de sua chegada aos Estados Unidos, em 22 de junho - Abraham Weintraub no Twitter

Segundo o órgão, Weintraub disse ao chanceler Ernesto Araújo que ocuparia o cargo no Banco Mundial em Washington no mesmo dia em que deixou a Educação e, por isso, precisaria dos “bons ofícios” do ministério para obter o visto.

Na mesma data, o órgão encaminhou o pedido de visto americano para o seu passaporte diplomático —um documento a que ministros têm direito.
Para complicar a história, a exoneração de Weintraub só foi publicada no Diário Oficial em 20 de junho. No dia 23, porém, a data foi alterada para 19 de junho, após o Ministério Público pedir uma apuração sobre o papel do Itamaraty no episódio.

Quem chegou aos Estados Unidos, portanto, foi um ex-ministro.

Não foi a primeira vez que o governo Bolsonaro mexeu no Diário Oficial. Em abril, a demissão do diretor da Polícia Federal veio assinada pelo presidente e pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro. Depois que Moro saiu do governo e negou ter assinado a demissão, seu nome foi retirado numa edição posterior.

Quanto a Weintraub, nem se sabe se o visto foi concedido e se o passaporte diplomático foi usado. A escapada pelos fundos precisa ser mais bem explicada.

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