Repensando a meia-entrada

A Ancine (Agência Nacional de Cinema) abriu consulta pública para discutir se a meia-entrada deve continuar obrigatória. O Ministério da Economia já se posicionou a favor da extinção do benefício.

É uma discussão bem-vinda. Se contarmos as leis federal, estadual e municipal, pagam meia-entrada estudantes, idosos, jovens de baixa renda, portadores de deficiência, professores da rede pública, servidores do Estado, pacientes de câncer, doadores de sangue e de medula e membros de sindicatos.

Não surpreende que cada vez menos gente pague a entrada inteira. Em 2017, eles eram 29,9% do público dos cinemas; em 2019, apenas 21,6%.

Drive-in no Memorial da América Latina, na zona oeste da capital paulista; opção de cinema durante a quarentena do novo coronavírus - Eduardo Knapp - 17.ju.20/Folhapress

Quando quase 80% dos frequentadores paga meia, há algo errado na lógica do sistema. Quem pode consegue uma carteirinha para o desconto. Quem não pode deixa de frequentar espetáculos.

A meia-entrada é ineficiente na medida em que força os produtores culturais a aumentarem os preços para que as peças, shows e afins sejam minimamente viáveis. No final, os pagantes de meia pagam a metade do dobro, e quem não tem direito ao benefício se vira com Netflix.

Exceto pelos jovens de baixa renda, não há sinais de que as categorias contempladas pela lei precisem dela. Os jovens mais ricos passam mais anos com carteira de estudante do que os mais pobres. O rendimento de idosos é na média maior que o dos adultos mais jovens. E nem vamos falar dos servidores públicos, a categoria com maior média salarial do país.

Se a meia-entrada fosse restrita ao setor cultural, poderia ser tratada como uma esquisitice nacional. Como essa lógica contempla outras áreas, do transporte público ao acesso a crédito, ela precisa ser repensada.

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