Na semana passada, durante uma cerimônia em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro anunciou em alto e bom som que a Lava Jato acabou "porque não há mais corrupção no governo".
Como nas comédias, o tempo se encarregou de ridicularizar o canastrão. Pois na quarta-feira (14), sete dias depois de proclamado o fim da roubalheira, o então vice-líder do Planalto no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), foi pego pela Polícia Federal com dinheiro na cueca.
A PF cumpria um mandado de busca e apreensão, ordenado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, na casa do senador, em Boa Vista. Investiga-se suposto desvio de verba federal para o combate à Covid-19.
Chico Rodrigues diz que provará a inocência, mas foi desligado da vice-liderança do governo --e afastado por 90 dias do Senado por decisão de Barroso.
A prática é conhecida dos brasileiros. Um dos casos mais lembrados é o do assessor do hoje deputado federal José Guimarães (PT-CE) flagrado com US$ 100 mil, também na cueca, ao tentar embarcar num voo doméstico em 2005.
Dá para imaginar o que está por trás da fanfarronice de Bolsonaro ao alardear o fim da corrupção. É o desejo de não ter seus novos e velhos parceiros políticos --e sobretudo familiares-- importunados por procuradores, juízes e policiais.
A realidade, porém, frustra as expectativas presidenciais, para o bem das instituições republicanas. A aproximação de Bolsonaro com o centrão tem o efeito elogiável de moderar o seu extremismo, mas não disfarça o interesse de ambos em obstruir os órgãos de fiscalização.
Cabe à sociedade e aos guardiões da lei impedir que esse segundo e perigoso propósito da aliança prospere.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.