Da preparação em Teresópolis à festa no Rio de Janeiro, a seleção brasileira passou por nove cidades na Copa América.
Os jogadores, trancados, não viram muita diferença entre Vespasiano e Salvador. Quem seguiu o time verde-amarelo, porém, pôde observar distinções claras nas esquinas do país.
Brasília, segunda parada do escrete, quase não as tem. Se não existe esquina, não tem como existir o boteco de esquina. E aí está toda a questão brasiliense. O Brasil só vai engrenar quando esquinas forem instaladas em torno do Congresso, quando o espelho d’água for trocado por um farol cercado de pedintes, malabaristas e copos americanos.
Teresópolis não tem esse problema. Ainda que não haja cruzamentos fervilhantes no município serrano, não lhe faltam cantinhos nos quais se pode admirar o Dedo de Deus e amaldiçoar os de Pimpão.
No Cantinho dos Amigos, causa espanto a saúde do atacante do Botafogo. Por trás do balcão, o alvinegro Serginho observa como nada parece tirar o atleta de campo. “O Pimpão não tem uma frieira”, lamenta.
Quando o assunto é o mercado de transferências, Serginho dá a letra sobre um negócio em andamento: “O Barcelona está muito interessado no Pimpão”.
Há na mentira debochada muito mais verdade do que a poucos quilômetros dali, na Granja Comary. Enquanto a seleção trabalhava com portões fechados e o coordenador Edu Gaspar cumprindo aviso prévio, o Cantinho tinha portas abertas e um gerente mais dedicado, o incansável Guti. Do outro lado do balcão, figuras como o flamenguista André compunham um ambiente alegre, diferente do visto no CT do Brasil.
O bar só não é o protótipo perfeito do boteco de esquina porque não fica em uma. Bobagem técnica que não apaga a conclusão cristalina, gelada, com dois dedos de colarinho: o país e sua capital sem esquinas seriam melhores com cantinhos como aquele, em que até Rodrigo Pimpão, com sua saúde de ferro, seria tratado como amigo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.