Descrição de chapéu Opinião

Caneladas do Vitão: Estado sem fronteira

São Paulo

No Pão de Açúcar, o sotaque embutido em "criança de dez anos paga quanto?" denuncia... "Tu é [sic] Corinthians, né?" é a pergunta-exclamação... Uma semi-interrogação, já que, se a dúvida da charmosa e extrovertida bilheteira fosse maior, seria mais normal ela mandar um "qual teu time, paulixxxxta"?

Claudio de Oliveira

 
Antes mesmo de chegar à Urca para turistar sobre a baía da Guanabara, a pergunta já havia sido feita. À paisana, bermuda, regata e chinelo neutros, com filho e mulher também sem nada que identificasse a paixão pelo Timão, o motorista de Uber puxou assunto: "Corinthiano"? Com a anuência sinalizada com a cabeça, simpatia típica de quem não quer papo, o monólogo fluiu. "Então, tu vai torcer pro meu Fogão hoje contra o Palmeiras"!

O sabadão abençoado de 12 de outubro estava só começando. Praia, Jardim Botânico e petisco no Bar do David, no pé do morro Chapéu Mangueira, afinal Corinthians é tudo comunidade... 

A atendente, rubro-negra, brincou: "Paulixxxta, aqui não é papo de retranca de Corinthians, não, aqui é gol de Gabigol". A costela, que fazia uma tabelinha espetacular com a picante geleia de abacaxi caseira, desmanchava como o sorriso campeão da morena. De novo, quatro dos cinco corinthianos da mesa (o casal com o filho foi a convite do irmão do marido e de sua mulher) não tinham nada que revelasse o amor pelo Coringão...

Jantar terminado, banho tomado, desodorante reforçado para dar conta do clima umbralino, chegou a hora de vestir verde-rosa e chamar o aplicativo para acompanhar a final do samba-enredo na Estação Primeira. "Aí, corinthiano, saiba que a Mangueira foi fundada por um grande tricolor, Cartola", soltou o piloto, que deve ter algo contra a cor vermelha já que ignorou 100% dos "sinais" (os paulistaníssimos faróis) vermelhos.

Fundado sob a luz do lampião, no Bom Retiro, o Corinthians não perdeu o bondinho da história. Continua lindo, continua sendo o time do povo, religião de janeiro a janeiro, representando os manos e as minas, merrrrmãos, onde for, em São Paulo, no Rio de Janeiro. 

Mais que paulista, o "Vai, Corinthians", gritado e ouvido, no alto do morro, na quadra da escola e na orla de Copa, é um estado de espírito que não conhece fronteira.

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