Descrição de chapéu Opinião

A bola é um detalhe: Adiante

São Paulo

Ótima reportagem do amigo Bruno Ceccon, na Gazeta Esportiva, mostrou o sorriso da viúva de Ananias ao celebrar a memória do marido, morto no acidente com o avião que transportava a delegação da Chapecoense há três anos. Barbara Calazans cultiva alegremente no menino Enzo, de oito anos, filho do jogador, a lembrança do pai.

Não há um dia, segundo ela, em que o atacante não seja recordado. Para isso, há um álbum com 500 fotos de pai e filho, cuja capa tem a piegas e verdadeira mensagem: “Toda história de amor é maravilhosa, mas a nossa é minha favorita”.

Enzo, que mora em Salvador, também se mantém perto do pai ao viver seu ambiente. Ele pede —e é atendido— para ir aos treinos e entra em campo com os atletas do Bahia, onde Ananias iniciou a carreira.

Ananias, faz questão de assegurar Barbara, não será esquecido por Enzo - Juan Mabromata - 2.nov.16/AFP

É claro que não é fácil. A dor “não tem remédio”, como conta Barbara, e “o vazio é imenso”. “Mas vamos superando da forma que dá”, diz ela, que sorri ao reviver momentos como o batismo do Ananias Parque, apelido do estádio inaugurado com um gol do pai de Enzo.

Ontem, quando se completaram três anos da tragédia, foi publicada mais uma boa entrevista ligada ao tema. Vários colegas do Globoesporte assinam o papo com o lateral esquerdo Alan Ruschel, uma das seis pessoas que sobreviveram à queda do avião.

Ruschel termina a conversa dizendo-se “muito feliz” por ter sido um dos escolhidos para ficar. Ao longo dela, porém, demonstra uma série de desconfortos na tentativa de deixar para trás aquele 29 de novembro.

Hoje no Goiás, ele conta ter deixado a Chapecoense pelos comentários de que jogava por pena. E, ao mesmo tempo em que declara amor ao time e a Chapecó, diz que não pretende voltar.

Alan Ruschel quer ser visto como um jogador, não como um sobrevivente - Josep Lago - 7.ago.17/AFP

O contato com os parentes dos mortos é ainda mais difícil. “Ver um cara que sobreviveu ao mesmo acidente em que o filho, o marido ou o pai morreu é complicado. Não sei o que falar.”

Ficar pode ser mais difícil do que partir. Alan Ruschel e Barbara estão fazendo o que podem.

Marcos Guedes
Marcos Guedes

33 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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