Se você esteve na avenida Paulista no último domingo com a camisa do Corinthians —para caminhar, protestar ou jogar milho aos pombos—, foi no mínimo revistado por um policial pouco amistoso. Se passou por lá com a camisa da seleção brasileira —e, por que não, um taco de beisebol—, recebeu proteção e carinho.
Pode parecer arbitrário, mas não é. Há um método claro na distinção, uma linha que separa o terrorismo da liberdade de expressão. No momento tenebroso que atravessamos, gritar democracia é incendiário e apontar tochas na direção do STF, dever cívico.
Mas esqueçamos o fogo purificador, pentecostal mesmo, de Brasília. Observemos apenas o que se deu em São Paulo em um domingo emblemático.
Chico Malfitani, que enfrentou a ditadura no Corinthians e no Brasil, estava lá de novo. De novo, como que empunhando a cinta de Neco ou o copo de cerveja de Sócrates, os corinthianos brigaram por algo que ia além do futebol.
De novo, a Polícia Militar cumpriu seu papel. Protegeu a turma do beisebol e atacou quem se manifestava pacificamente.
A PM paulista, que nasceu no século 19 como Corpo de Guardas Municipais Permanentes, honrou novamente as estrelas de seu brasão. Quem sabe, ao fim desta crise, não tenha conquistado mais uma.
Cada uma das 18 estrelas do símbolo representa um grande momento da história da corporação. Isso inclui, por exemplo, sua participação no massacre de Canudos (oitava estrela) e seu papel no triunfo do que é chamado de “Revolução de 1964” (18ª estrela).
Como observa o historiador Luiz Antonio Simas, cronista fundamental dos nossos tempos, “o problema das PMs não é ter dado errado”. “É até hoje ter dado certo na defesa do status quo, das ‘famílias de bem’.”
Este fim de semana promete novas manifestações. Grite o que tiver de gritar, mas tome o cuidado de observar se a sua roupa provoca simpatia em uma quase bicentenária e eficientíssima instituição.
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