Assistir às partidas de futebol tem sido uma experiência dura para quem realmente se importa com um time.
Em primeiro lugar, porque não é possível ir ao estádio na pandemia. Aqueles que estão habituados à arquibancada, certos de que fazem a sua parte aos berros, agora se sentem impotentes, tendo como única opção a televisão.
Ocorre que as transmissões não são feitas para esse torcedor fanático, cujo humor na semana depende daqueles 90 minutos. Ao contrário, há situações em que a exibição parece ser desenhada com o propósito de irritá-lo.
No momento em que o sujeito está colérico porque o goleiro tomou um peru ou porque o centroavante foi expulso, a prioridade —no efeito visual da tela e na observação do narrador— é informar a consequência disso no joguinho virtual da emissora: “Quem escalou o Zequinha não está feliz, acaba de perder dois pontos”.
Não é a respeito dessa pontuação que o torcedor está apreensivo. Também não está no topo de sua lista de preocupações “o assunto do momento nas redes” ou a opinião dos internautas na eleição do craque do jogo —geralmente um reserva ou alguém atuando mal, na base do voto de gozação.
Que fique claro, não se trata aqui de uma crítica a uma emissora específica. Na semana passada, por exemplo, dois canais por assinatura concorriam na transmissão do tenso Palmeiras x Coritiba que resultou na queda de Vanderlei Luxemburgo. Em ambos, debateu-se longamente a semelhança física do árbitro com o volante Casemiro, da seleção brasileira.
A bola virou “um reles, um ínfimo, um ridículo detalhe”, como descrevia Nelson Rodrigues, mas não pelos motivos citados pelo cronista. Para ele, o que importava era a alma, o homem, não um objeto de couro.
Mas que alma há em um jogo sem público no estádio, em que o torcedor não pode gritar gol nem de casa? Sim, porque gritar gol em tempos de VAR é uma total irresponsabilidade.
Quando o tento é confirmado, após longa checagem, o momento já foi esvaziado, o berro não se justifica. Faz mais sentido ligar o computador e votar no craque do jogo.
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