Descrição de chapéu Opinião

A bola é um detalhe: Trinca de reis

Guinei, Jacenir e Mauro não são Delegado, Jamelão e Cartola, mas merecem respeito

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São Paulo

Na indefinição sobre a realização do Carnaval de 2021, só a maior escola esperou até o último momento para decidir seu enredo. Com o agendamento provisório dos desfiles para julho, a Mangueira finalmente resolveu divulgar seu tema nesta semana.

“Mata no peito, domina a bola e segue comigo para a jogada seguinte. Quem vai entrar em campo vestindo verde-e-rosa no desfile de julho precisa saber: nós não vamos pisar naquela avenida sozinhos”, escreveu o carnavalesco Leandro Vieira.

O aperitivo levou a especulações sobre uma apresentação ligada ao futebol. Não era exatamente o caso, mas uma metáfora que prenunciava a homenagem a craques nem sempre valorizados apropriadamente.

“Angenor, José e Laurindo” é o enredo da Estação Primeira, referência aos nomes do compositor Cartola, do cantor Jamelão e do bailarino Delegado. Três pretos que, mesmo com seu talento inacreditável, encararam momentos de desprezo dentro da própria casa.

"Angenor, José e Laurindo", Cartola, Jamelão e Cartola são o enredo da Mangueira para 2021
"Angenor, José e Laurindo" são gênios - Divulgação

No centenário de Cartola, em 2008, a Mangueira cantou o patrocinado centenário do frevo. Em 2013, ocasião em que poderia celebrar os cem anos de Jamelão, resolveu fazer uma paga “poesia dedicada a Cuiabá”. Em 2021, quando se completarão dez décadas do nascimento de Delegado, a escola de samba vai fazer reparos históricos.

Não há dinheiro, não há patrocínio, e a Velha Manga está passando a cartola em busca de uns trocados. Mas o desfile, não há dúvida, será bem superior aos de 2008 e 2013.

A Mangueira, enfim, exibirá uma “Trinca de Reis” de respeito. Em 1989, ano em que esse foi o título do carnaval da escola, mais um envolto em cifrões, os homenageados não eram merecedores.

Datas ajudam a contar histórias. E o centenário do mestre-sala Delegado vai reparar dívidas.

O Corinthians, que vem celebrando os 30 anos do título brasileiro de 1990, poderia fazer o mesmo com figuras maltratadas de sua história. Guinei, Jacenir e Mauro eram os três pretos daquele limitado time titular e, não por coincidência, os mais massacrados.

O hábil Jacenir escapa do carrinho do truculento Raí - Sergio Andrade - 13.dez.90/Folhapress

Mauro, até hoje, chora quando seus filhos o chamam de “campeão de 90”. Ele deve saber que a Fiel também é grata.

Marcos Guedes
Marcos Guedes

36 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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