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A bola é um detalhe: Exposição ridícula

Na era do "acesso total", Corinthians exibe entranhas de ano tenebroso

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São Paulo

Vivemos a era da exposição ridícula. Daqui a 300 anos, se ainda existirem livros e História, os livros de História retratarão o período atual como o momento em que as pessoas tiravam fotografias do próprio prato de comida e divulgavam a imagem antes de comer.

Não há mais filtros. Em um mundo no qual o importante é chamar a atenção, até o resultado da digestão pode ter apelo. Só é uma pena que já não exista Rubem Fonseca, alguém de fato capaz de fazer da bosta arte. Grande arte.

O futebol, claro, não está alheio ao momento patético. Está aí o Corinthians para mostrar que a falta de noção do ridículo é um dos ingredientes fundamentais do nosso tempo.

Os alvinegros sofreram com uma temporada terrível. Ocorreram goleadas hediondas, derrotas para adversários de todos os tamanhos e uma grande alegria: não houve rebaixamento.

Terminado o martírio de um ano desastroso, o que ganharam os corinthianos? Um documentário seriado que exibe as entranhas de um clube doente. Doente a ponto de ter permitido, por uns trocados, que equipes de filmagem externas gravassem situações absolutamente internas, como o outrora inviolável ambiente do vestiário.

Imagem de divulgação do documentário em série "Corinthians - Acesso Total", do SporTV
Se você quer se divertir com o terrível 2020 do Corinthians, veja "Corinthians - Acesso Total", autorizado pelo clube, produzido pelo SporTV e disponível nas plataformas do canal - Divulgação

Se a ideia do torcedor era esquecer as duras pancadas sofridas nos confrontos com o arquirrival, azar o dele. Na série, ele revive os fracassos diante do Palmeiras, com constrangedoras imagens de bastidores.

O mais triste é que o conteúdo não é encenado. Não se trata de algo lúdico, como as velhas pegadinhas de Sérgio Mallandro na televisão, com câmeras falsamente escondidas e esquetes como “Mallandro finge que não é Mallandro e confunde clientes”.

A série “Corinthians — Acesso Total” poderia se chamar “Corinthians finge que não é Corinthians e confunde torcedores”. Eles aguardam, ansiosos, que o Corinthians volte a agir como Corinthians.

Marcos Guedes
Marcos Guedes

36 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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