Vivemos a era da exposição ridícula. Daqui a 300 anos, se ainda existirem livros e História, os livros de História retratarão o período atual como o momento em que as pessoas tiravam fotografias do próprio prato de comida e divulgavam a imagem antes de comer.
Não há mais filtros. Em um mundo no qual o importante é chamar a atenção, até o resultado da digestão pode ter apelo. Só é uma pena que já não exista Rubem Fonseca, alguém de fato capaz de fazer da bosta arte. Grande arte.
O futebol, claro, não está alheio ao momento patético. Está aí o Corinthians para mostrar que a falta de noção do ridículo é um dos ingredientes fundamentais do nosso tempo.
Os alvinegros sofreram com uma temporada terrível. Ocorreram goleadas hediondas, derrotas para adversários de todos os tamanhos e uma grande alegria: não houve rebaixamento.
Terminado o martírio de um ano desastroso, o que ganharam os corinthianos? Um documentário seriado que exibe as entranhas de um clube doente. Doente a ponto de ter permitido, por uns trocados, que equipes de filmagem externas gravassem situações absolutamente internas, como o outrora inviolável ambiente do vestiário.
Se a ideia do torcedor era esquecer as duras pancadas sofridas nos confrontos com o arquirrival, azar o dele. Na série, ele revive os fracassos diante do Palmeiras, com constrangedoras imagens de bastidores.
O mais triste é que o conteúdo não é encenado. Não se trata de algo lúdico, como as velhas pegadinhas de Sérgio Mallandro na televisão, com câmeras falsamente escondidas e esquetes como “Mallandro finge que não é Mallandro e confunde clientes”.
A série “Corinthians — Acesso Total” poderia se chamar “Corinthians finge que não é Corinthians e confunde torcedores”. Eles aguardam, ansiosos, que o Corinthians volte a agir como Corinthians.
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