O árbitro não é —ou não deveria ser— a parte mais importante de uma partida de futebol, mas é, sem dúvida, uma peça relevante do jogo. Natural, portanto, que ex-juízes façam parte de equipes de comentaristas, uma vez que podem oferecer um conhecimento e uma vivência bem específicos, capazes de enriquecer as transmissões realizadas pela televisão.
Parece fazer pouco sentido, porém, o modelo de “comentarista de arbitragem” adotado no Brasil. Não há o comentarista de goleiro, o comentarista de zagueiro ou o comentarista de centroavante, mas há um ser iluminado, uma espécie de oráculo para todas as questões envolvendo o apito.
Sua resposta, via de regra, é tratada na transmissão como uma verdade inapelável. Os demais comentaristas que não se metam no assunto, porque está a postos um ente fantástico, um comentarista de arbitragem, não um reles comentarista sem especialização.
Decorrem dessa dinâmica alguns problemas. O primeiro deles advém do fato de que alguns comentaristas de arbitragem são simplesmente ruins. Outros parecem ter uma agenda própria, uma predisposição para concordar com tudo o que é apitado no campo ou para perseguir determinado time em suas avaliações.
Assim, por vezes, ocorre um evidente descompasso entre o comentário e a imagem. O espectador é infantilizado, como se precisasse de um intérprete para entender o que está cristalino em sua tela. E a falsa autoridade lhe explica, por exemplo, em tom professoral, que o atleta correndo normalmente está em “movimento antinatural”. Ou que o jogador está em posição de impedimento para fazer o gol, mas em posição legal para sofrer pênalti.
Investido dessa visão extraordinária que não alcançam os mortais, o comentarista de arbitragem muito raramente deixa espaço para dúvida. Em um esporte como o futebol, cheio de lances com margem para diferentes interpretações, isso, sim, é antinatural.
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