Enquanto a inflação oficial do país medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) fechou 2019 com alta de 4,31%, a inflação dos planos de saúde subiu 8,24% no mesmo período.
A disparidade entre as categorias foi ainda maior nos últimos três anos. A inflação geral acumulada em 2017, 2018 e 2019 é de 11,41%. Os convênios médicos ficaram 36,61% mais caros, o triplo.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o pagamento do plano de saúde foi o segundo item que mais pesou no bolso do brasileiro em dezembro de 2019 (4,34%), atrás somente das refeições fora de casa (5,02%), puxadas, sobretudo, pelo aumento da carne no último trimestre.
Gerente de pesquisa do IPCA, Pedro Kislanov diz considerar a alta aplicada nos planos mais expressivos de cada região para fazer o levantamento de preços do IBGE. “Normalmente, os reajustes não se dão somente com a inflação, mas também com o acréscimo de custos médicos nas condições em que é permitido.”
Na opinião de Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e integrante do Geps (Grupo de Estudos sobre Planos de Saúde), o aumento dos valores bem acima da inflação ocorre porque as empresas querem "compensar a perda de clientes”.
Dados da Fenasaúde (federação que reúne 15 grupos do setor responsáveis por 40% do mercado) mostram que as operadoras tinham 50,7 milhões de beneficiários de produtos de assistência médica em março de 2014, contra 47,2 milhões em novembro de 2019.
Coordenadora do Programa de Saúde do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a advogada Ana Carolina Navarrete defende uma intervenção estatal para frear o aumento de preços. “Trata-se de um problema regulatório que o cidadão individualmente não vai resolver. É uma questão sistêmica.”
A pesquisadora diz que foram raras as oportunidades em que o cliente insatisfeito com o reajuste aplicado conseguiu negociar com a prestadora de serviço. “Observamos que em caso de aumentos sem justificativas, o Poder Judiciário tende a ter um parecer favorável ao consumidor. A cada quatro casos, três ganham”, diz.
Segundo levantamento divulgado em 2017 pelo Idec, a média dos reajustes contestados na Justiça é de 81,21%.
Disparidade pode ser maior, diz representante dos planos
A Fenasaúde afirma que a disparidade de aumento de preços tende a ficar ainda maior com o envelhecimento da população e o encarecimento das tecnologias usadas nos tratamentos médicos. “Mudar esta situação é um desafio de toda a cadeia de saúde que depende, sobretudo, de uma mudança no modelo assistencial em direção a uma medicina baseada em desempenho”, afirma a diretora-executiva do grupo, Vera Valente.
ANS acha comparação inadequada
A agência reguladora informa que não considera adequado comparar os reajustes dos convênios com a inflação oficial, já que o custo final deste tipo de serviço “é impactado por fatores como o aumento da frequência de uso do plano de saúde, aumento dos preços e inclusão de novas tecnologias".
Variações dos serviços relacionados à saúde no ano de 2019
- Serviços laboratoriais e hospitalares: 6,45%
- Fisioterapeuta: 4,74%
- Dentista: 3,55%
- Psicólogo: 0,58%
Inflação geral x inflação dos planos de saúde
Período | Inflação geral | Convênios médicos |
2019 | 4,31% | 8,24% |
2018 | 3,75% | 11,17% |
2017 | 2,95% | 13,53% |
2016 | 6,29% | 13,55% |
2015 | 10,67% | 12,15% |
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