Dentistas e artistas pedem apoio do governo durante pandemia do coronavírus

Profissionais liberais temem ficar sem dinheiro para manter consultórios e atividades

São Paulo

O Sindicato dos Odontologistas do estado de São Paulo encaminhou pedido ao Ministério da Economia de um empréstimo de até R$ 50 mil para cada cirurgião dentista com clínica aberta.

A entidade solicita que o valor seja pago sem juros, em 50 parcelas de R$ 1.000, a partir de janeiro de 2021. O empréstimo seria para auxiliar os profissionais a manterem as despesas dos consultórios, como água, luz, aluguel, impostos e funcionários durante o período de isolamento social.

O dentista Ivan Biazon usa equipamentos de proteção para atender casos de urgência e emergência durante a pandemia de coronavírus. - Arquivo pessoal

Com a recomendação dos órgãos de saúde para que o atendimento seja apenas de urgência e de emergência, o movimento nos consultórios odontológicos caiu 90% nas últimas semanas, o que preocupa os profissionais da área, que não podem buscar alternativas como o teleatendimento. Outras classes de profissionais liberais, como fonoaudiólogos e artistas também vivem limitações para trabalhar e esperam ser contemplados em alguma das medidas do governo federal.

Consultado pela reportagem do Agora, o Ministério da Economia disse não comentar medidas em análise ou que ainda não são públicas. "O grupo de monitoramento da crise econômica relacionada ao Covid-19 está analisando diversas alternativas para reduzir os impactos da pandemia para o setor produtivo e para o setor público, com o objetivo de preservar especialmente a população mais vulnerável. As novas decisões serão informadas no momento em que forem devidamente finalizadas e tornadas públicas", diz nota.

"Temos que trabalhar para ganhar, mas não podemos atuar normalmente pela nossa segurança e a do paciente. Ele mesmo não está indo às consultas", afirma o presidente do sindicato dos odontologistas, Pedro Petrere. "Não queremos que o governo nos dê o dinheiro, mas empreste. Seria para a manutenção desse setor nos próximos três meses. No estado, são cerca de 29 mil consultórios e clínicas que, provavelmente, 50% delas não terão como se manter nos próximos meses", diz.

O Conselho Federal de Odontologia afirma que também fez solicitações para a liberação urgente e facilitada de empréstimos para diversos bancos em todo o país, bem como para o Ministério da Economia para que seja contemplada toda a cadeia produtiva da odontologia, incluindo os cirurgiões.

"Algumas medidas em curso podem minimizar a situação como a renda mínima de R$ 600 que o governo vai liberar para os que se enquadram, exemplo dos recém-formados e a prorrogação do pagamento das anuidades do conselho para os profissionais. Outras como a prorrogação do pagamento de dívidas tributárias estão incluídas no pacote com outras categorias. Não temos ainda como dimensionar o que acontecerá, mas o setor passará por dificuldades", diz o presidente do conselho, Juliano do Vale.

Ele afirma que todos os dias tem recebido inúmeras demandas de núcleos distintos cobrando ações. "Revisamos os pedidos diariamente e damos encaminhamento."

O dentista Ivan Biazon, 32 anos, de Diadema (Grande SP), afirma que, há três semanas, atende apenas casos realmente urgentes. "Decidi praticamente não trabalhar nesse período para atender as recomendações e também porque, apesar de fazer perguntas aos pacientes e seguir os protocolos, sabemos que nem todos apresentam sintomas", explica ele, que tem medo de se contaminar e transmitir para a mãe e a avó, que são idosas.

Biazon conta que deu férias para a secretária e dispensou a diarista da clínica. "É muito difícil, mas não sei como serão as próximas semanas ou meses. Já estou pesquisando linhas de crédito para pegar um empréstimo. Estou cortando todas as despesas e reestruturando o consultório. Tenho caixa para pagar o aluguel deste mês, mas talvez não no próximo."

O dentista Ivan Biazon só atende casos de urgência e emergência durante a pandemia de coronavírus - Arquivo pessoal

A presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, Silvia Tavares, explica que o teleatendimento foi liberado até abril seguindo as recomendações necessárias para utilização. Porém, diz, a alternativa ainda encontra resistência e outras vezes não pode ser aplicada. "No meu consultório, por exemplo, apenas 10% dos pacientes aceitaram o teleatendimento, os demais dizem que vão aguardar outro momento para retomar o tratamento, mas alguns não podem ser interrompidos. Há também os profissionais preocupados em atender presencialmente com medo de contaminação."

Silvia afirma que outra questão é que nem sempre os planos de saúde pagam pelo teleatendimento. "Nesse período, muitas operadoras estão cooperando, mas não é a totalidade." O conselho também prorrogou o pagamento das anuidades em seis meses.

Sindicatos de artistas e técnicos doam cestas básicas e arrecadam fundos

Segundo o presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de São Paulo, Dorberto Carvalho, os profissionais com dificuldades financeiras estão sendo cadastrados para receber uma cesta básica. "Estamos recebendo doações, contando com a solidariedade da categoria, mas também de outras pessoas. Todos os dados da arrecadação estão transparentes no site."

Carvalho diz que o processo para receber o benefício de R$ 600, que contemplaria alguns profissionais, está sendo burocrático, pois enfatiza que muitos deles vivem na informalidade. "Esse acesso precisa ser facilitado. O reflexo do cancelamento de espetáculos tem sido sentido de forma brutal e pode sufocar boa parte da classe em 15 dias. Por isso precisamos do apoio da sociedade e do governo."

A musicista Cacá Molgora, 32 anos, de São Bernardo do Campo (ABC), está organizando uma "vaquinha virtual" nas redes sociais para ajudar artistas e autônomos. "Arrecadamos até o momento R$ 1.800 e repassamos para 30 pessoas. Continuamos com o movimento com as palavras #corrente conscientebolsa crise e corrente do bem."

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Profissionais liberais / O que reivindicam

Dentistas

  • 333 mil cirurgiões dentistas no país
  • 88 mil estão no estado de São Paulo
  • Estão realizando apenas atendimentos de urgência e de emergência

O que pedem:

  • Liberação de linhas de crédito especiais para pessoas físicas e jurídicas
  • Pagamento facilitado, baixa taxa de juros ou zerada para manutenção do setor e investimento em novas tecnologias para a segurança dos profissionais e pacientes
  • Prorrogação do pagamento do Fies para estudantes e recém-formados

Artistas

  • 32 mil artistas e técnicos atuantes no estado de São Paulo
  • 1.500 sindicalizados
  • Espetáculos e apresentações canceladas

O que pedem

  • Empréstimo de R$ 2 milhões a R$ 2, 5 milhões ao governo do estado para socorrer 1.000 artistas e técnicos
  • Aprovação do projeto de lei que contempla benefício de um salário mínimo por mês para cada artista durante o período de pandemia

Fonoaudiólogos

  • 44 mil fonoaudiólogos no país
  • Estão realizando atendimentos presenciais apenas de urgência e de emergência
  • Teleatendimento em alguns casos

O que pedem:

  • Estudam enviar pedidos de empréstimos ao governo e apoio à categoria

Fontes: Conselho Federal de Odontologia, Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de São Paulo, Conselho Federal de Fonoaudiologia e Sindicato dos Odontologistas do estado de São Paulo

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