Afetadas pela crise decorrente da pandemia de Covid-19, as escolas privadas de São Paulo esperam ter uma queda no número de matrículas em 2021. Entretanto, apesar da iminente evasão de alunos, o setor não deverá conceder descontos para tentar estimular a permanência de estudantes.
O presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro da Silva, afirma que a redução de mensalidades não será possível para a maioria dos colégios em razão do aumento nos gastos ao longo deste ano. "Com a pandemia, as escolas investiram muito em tecnologia", diz Silva, referindo-se às adaptações feitas para implantação do EAD (Ensino a Distância).
O representante do setor diz ainda que a entidade está sugerindo às escolas que "não abandonem" os alunos cujos pais estejam com dificuldades financeiras. "Se não puderem dar desconto, que ofereçam algum tipo de condição, como aumento de parcelas, por exemplo", orienta.
Por outro lado, mesmo com a elevação nas despesas, Silva avalia que as unidades tendem a não aplicar grandes reajustes para 2021, limitando as correções somente à reposição da inflação do período.
Na opinião dele o ciclo educacional que deverá ter maior evasão é a educação infantil, na faixa de zero a três anos. Ele estima que a queda no número de alunos dessa fase pode ser entre 30% a 40%. Isso porque, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a matrícula de crianças de até três anos nas escolas é opcional, passando a ser obrigatória a partir dos quatro anos.
No ensino fundamental, a estimativa é de uma evasão baixa, em torno de 1,5%. Já no ensino médio, Silva considera que pode haver uma tendência contrária, de migração de alguns estudantes da rede pública para a privada, visando melhor preparação para vestibulares. "Até porque, a escola particular fez sua lição de casa nas aulas online", defende.
A evasão da rede privada já vem sendo observada ao longo de 2020. Segundo a secretaria estadual de Educação, gestão João Doria (PSDB), até agosto, 12 mil alunos foram transferidos de escolas particulares para escolas estaduais, número que é 20% maior do que no mesmo período de 2019.
O presidente da Fenep (Federação Nacional das Escolas Privadas), Ademar Batista Ferreira, também acredita na possibilidade de perda de alunos em 2021, mas diz que ainda não é possível estimar percentuais. "Isso vai depender da profundidade da crise econômica no ano que vem", comenta. Outro fator que deve influenciar é como será a volta das aulas presenciais.
Reajuste leva em conta três índices de inflação
Se a proposta sugerida de um reajuste apenas para recuperar a inflação do ano for usada pelas escolas, as mensalidades das unidades particulares teriam um reajuste de 0,94%, considerando os dados até agosto, segundo a prática de cálculo adotada pelas escolas, que é a média de três índices de inflação.
No mesmo período, a inflação oficial do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,7%. A cesta de índices que as escolas adotam para definir a inflação acumulada, segundo Benjamin Ribeiro da Silva, do Sieeesp, é composta por três índices, IPCA, do IBGE, ICV (Índice do Custo de Vida), do Dieese, e IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da Fipe. A média dos três, até agosto,ficou em 0,94%.
“De acordo com a lei, as escolas têm até 45 dias antes do início das aulas para fixar o reajuste”, diz Silva. A lei 9.870, de 1999, estabelece os critérios da comprovação do índice de reajuste das mensalidades, por meio de uma planilha de gastos. “Você pode colocar na planilha, os reajustes de salários, investimentos em tecnologia, obras de melhoria da escola, aluguel, água, luz, telefone e etc”, disse Silva.
Dona de escola ainda não consegue fazer planos para 2021
A educadora Christiane Lunardi Guedes Março, dona da escola ArteManha, no Jardim Marajoara (zona sul de São Paulo), diz que é muito difícil fazer planos para 2021 antes de saber em que condições as aulas presenciais irão voltar ou como será o cenário pós-pandemia e com uma vacina para o Covid-19. A princípio, mesmo com o impacto da crise, a diretora pretende manter os mesmo valores de 2020.
“Vamos ter o retorno parcial a partir de novembro, sentindo segurança, a gente pode trabalhar 2021 já de uma forma mais concreta. Vamos tentar passar nenhum reajuste porque os pais estão com bastante dificuldade. Tivemos aumento de todos os nossos custos, até os alimentos dispararam e temos almoço na escola. Além disso, não sabemos quanto será o dissídio dos professores e isso dificulta formar o custo”, disse.
Por conta da pandemia e para evitar a saída de alunos, a diretora pretende não mudar os valores das mensalidades, pelo menos no começo do próximo ano. “A gente precisa passar ao menos a inflação, mas sabemos que, se for feito esse repasse, os pais não vão conseguir pagar", diz ela.
"Atualmente, estamos com desconto de pandemia e têm pais em condições difíceis. Para os pais que estão nos procurando para saber como vai ser em 2021, estamos dizendo que a matrícula e a mensalidade ficam com o mesmo valor até julho, depois vamos ter que propor algum reajuste ou parcela de complementação, mas são planos que podem mudar”, afirma.
Mãe espera contar com desconto até ano que vem
A relações públicas Wendy de Oliveira, 36 anos, mãe do estudante Mateus de Oliveira, 5, que está no ensino infantil da escola Lunitê, em Guarulhos (Grande SP), negociou com a escola uma política de descontos.
“No começo da pandemia, teve um desconto de 15%. Do segundo mês em diante teve um desconto de 50% e o envio das tarefas para fazer em casa. Para 2021, não está certo ainda, mas vai ter um desconto de 15%, mas isso se tiver aula presencial”, disse.
“O quadro do cenário econômico e do mercado de trabalho deve continuar grave em 2021”, disse o economista Marcelo Manzano, do Cesit (Centro de Estudos Sindicais de Economia do Trabalho), da Unicamp. Segundo Manzano, a renda das famílias não será maior no ano que vem e será difícil para os assalariados manter filhos na rede particular de ensino, caso aumente muito o valor das mensalidades.
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