Quem imagina que ioga é uma atividade para fazer num ambiente tranquilo, coberto e sem interferência externa nunca viu a turma da professora Sophia Bisilliat, 56 anos, treinando em uma laje da favela Sabin, no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.
Desde agosto do ano passado, um grupo moradores da favela de todas as idades, de adolescentes até idosos, se reúne aos fins de semana para cuidar do corpo e da mente. E o melhor: tudo de graça.
Sophia conta que tudo começou por sugestão de uma de suas alunas. Como já fazia outros trabalhos voluntários, a professora conseguiu logo um espaço: o teto de uma entidade que faz trabalhos com música. "Decidimos que a laje seria o melhor lugar, apesar do barulho", afirmou.
Decidido o lugar, era a hora de ir atrás dos alunos. E foi no boca a boca mesmo, de porta em porta, que a aula de ioga na laje foi anunciada aos moradores da favela. "No começo eram umas seis mulheres. Hoje já são cerca de 35 pessoas, e não só mulheres. Temos homens e crianças também. Como um ou outro às vezes falta, sempre cabe todo mundo", disse Sophia, que sempre conta com apoio de outros professores para dar melhor atenção a todos.
A aula começa com uma caminhada de pouco mais de uma hora pelas ruas da favela. Assim, todos vão se achegando. Depois, já na laje, o grupo faz um relaxamento com respiração para começar a ioga.
A auxiliar de limpeza Viviane dos Santos, 36, disse que ficou com preguiça quando uma vizinha a convidou para fazer ioga. Mas acabou cedendo e agora não perde uma aula.
"Para mim está sendo muito bom. Eu estava muito sedentária e agora a diferença é notória. Já emagreci quatro quilos. Isso sem contar que aprendi a respirar. Eu era muito estressada, agora sei me controlar. Ainda não virei santa, mas estou mais equilibrada emocionalmente", afirmou.
Autoestima
As aulas de ioga foram apenas um pontapé inicial para melhorar a autoestima das mulheres da favela Sabin. Além da atividade física, elas ainda têm ajuda de especialistas em moda, maquiagem e curso de culinária. O grupo também conseguiu uma doação de 40 bicicletas para poder se exercitar pelo bairro.
A aposentada Marina Florença dos Santos, 64 anos, aproveita todas as oportunidades promovidas pelo grupo de ioga. Ela conta que não tinha feito nenhuma atividade física até oito meses atrás, quando suas filhas falaram das aulas de caminhada e de ioga.
"Eu não fazia ideia do que era ioga, mas vi que todo mundo tava gostando. Como sentia muitas dores no corpo, pensei que pudesse me ajudar. Hoje, não sinto quase nenhuma dor e tenho muita disposição para fazer as coisas", disse Marina.
Após começar a treinar, Marina inspirou toda sua família, que também passou a frequentar as aulas na laje. Ela conta que nunca tinha imaginado uma atividade assim, principalmente no ambiente onde mora. "Essa foi a primeira ação educativa de esporte em nossa comunidade e está sendo maravilhoso, eu estou amando", disse.
Calma na hora de decidir
Para a dona de casa Cristiane Dias, 36 anos, fazer ioga era impensável. Quando soube do projeto em sua comunidade por meio de uma página no Facebook, ela mal sabia como era a prática. "Só tinha ouvido falar", afirmou.
"Eu nunca tinha feito nenhum exercício físico nem academia, não tinha nenhuma coordenação motora. No começo eu achava que não teria capacidade, mas a professora [Sophia Bisilliat] me incentivou muito", disse.
A dona de casa pratica ioga com o grupo há seis meses. Segundo ela, sua vida mudou "radicalmente" de lá para cá. Se antes se descrevia como uma pessoa muito agitada, nervosa e estressada, hoje ela diz conseguir manter a calma, respirar melhor e ponderar mais ao tomar decisões.
"Eu vivia cuidando da casa e dos meus filhos e praticamente só fazia isso", disse a dona de casa. "Mas agora está tudo diferente, até meu humor melhorou. Durante a semana fico contando os dias para o treino", afirmou.
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