Descrição de chapéu Zona Sul

Pacientes dizem que precisam levar remédio ao Hospital do Servidor

Internados relatam que, a pedido de médicos, têm de comprar medicamento; estado nega

São Paulo

Pacientes internados no HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) de São Paulo afirmam que precisam comprar medicamentos que estão em falta no local. Ao menos cinco pacientes disseram que receberam orientações de médicos para comprarem eles mesmos os remédios necessários para continuidade do tratamento. 

Na enfermaria, a reportagem ouviu funcionários dizendo a parentes de pacientes que havia falta de antibióticos e anti-inflamatórios, entre outros remédios.

A família do aposentado Daniel Cândido da Silva, que está internado na instituição há cerca de duas semanas, afirma ter gasto cerca de R$ 150 com medicamentos que o hospital teria deixado de oferecer.

Coube a sua mulher, Elizabeth da Silva, correr atrás dos remédios. O último deles, para o colesterol, teria sido solicitado pelos médicos no início do horário de visitas desta quarta-feira (10), por volta do meio-dia. “O pior de tudo é que eles não dão a receita. Sei que esse último que pediram eu não vou conseguir comprar, pois tem acesso bastante restrito”, disse a aposentada.

Ex-funcionário da Secretaria Estadual de Cultura, Cândido tem histórico de doença cardíaca. Já teve um infarto e há um ano e meio precisou amputar uma perna em decorrência de um AVC.

Quando se aposentou, há dois anos, realizou um empréstimo bancário que continua em débito até hoje. “Então o dinheiro que a gente teve que gastar com os remédios impacta muito o nosso orçamento”, disse sua mulher.

Seu cateterismo já teve data adiada duas vezes desde a internação. Ontem, Silva amanheceu com um sangramento. “Até quando vamos ter que esperar pela cirurgia?”, indagou Elizabeth.

No mesmo quarto de hospital em que Cândido está internado, outro paciente se prepara também para um cateterismo. O homem, um aposentado, está hospitalizado desde a última sexta-feira, recebendo medicamentos que devem ser mantidos até o dia da operação.

Na terça-feira (9), os médicos disseram que este remédio havia acabado, e que o paciente deveria adquiri-lo por fora. No dia seguinte, no entanto, eles voltaram atrás: o hospital tinha recebido um novo estoque.

“Por pouco meu filho não comprou o remédio, já tinha até passado o nome pra ele”, disse a mulher do homem _nenhum dos dois quis se identificar. Assim como a família de Silva, ela também não recebeu uma receita dos médicos, somente uma indicação de compra.

A carência de alguns tipos de medicamentos não é novidade no hospital do Servidor, segundo uma paciente internada no quarto ao lado. Não é a primeira vez que ela passa por lá. “Isso acontece, não podemos esquecer que é um hospital público”, disse a aposentada, que já se habituou a arcar com os custos de seu remédio para controle do colesterol.

Gestão disfuncional

Na opinião do professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) Gonzalo Vecina Neto, o caso é evidência de uma gestão disfuncional. “Para chegar a esse ponto, é certo que há outras deficiências no atendimento”, afirma.

Vecina diz ainda que, uma vez internado, o paciente passa a ser responsabilidade do hospital, que deve oferecer o tratamento completo, seja na rede pública ou na rede privada.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), estuda transferir a gestão de 19 hospitais municipais para o governo estadual. No entendimento da prefeitura, a saúde municipal deve contemplar a atenção básica primária, assim como a ambulatorial especializada, conforme orienta o SUS (Sistema Único de Saúde).

Na opinião de Vecina, existe “uma certa lógica” nessa mudança de gestão. “No Brasil, a regra geral para os municípios de pequeno e médio porte é que que as prefeituras cuidem da atenção básica, enquanto a assistência hospitalar vai para o estado”, disse.

Porém, o professor considera que a capital tem tamanho e também capacidade para ter uma rede própria. “Acredito, inclusive, na municipalização”, acrescentou, ponderando que isso não significa assumir completamente o financiamento.”

Resposta

Por meio de nota, o Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual), responsável pela gestão do HSPE, negou que seus profissionais tenham orientado pacientes da maneira descrita pela reportagem.
“Em caso de ausência [de medicamento], troca-se o componente por outro que atenda a mesma finalidade, garantindo a continuidade do tratamento”, disse o texto.
A Prefeitura de São Paulo esclareceu que não há nenhuma informação oficial sobre a transferência de gestão de hospitais.
 

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