Moradores sofrem com jogo de empurra no limite das cidades

Zeladoria e infraestrutura são deixadas de lado por prefeituras

São Paulo

Moradores e comerciantes da capital e de regiões de cidades que fazem limite com São Paulo convivem com problemas comuns de zeladoria e falta de estrutura. E muitas vezes, os transtornos não são resolvidos por nenhum dos municípios pelo fato de as prefeituras jogarem a responsabilidade pelo imbróglio para o vizinho.

O Agora esteve nos limites de quatro cidades com as zonas norte, sul, leste e oeste da capital, e ouviu muitas reclamações sobre o jogo de empurra. 

O limite entre São Paulo e Itaquaquecetuba (Grande SP) é fisicamente demarcado pela ponte que passa sobre o córrego Três Pontes, dividindo os bairros Jardim Zélia (em Itaquaquecetuba) e Itaim Paulista (zona leste).

O aposentado Braulino de Jesus dos Santos, 78 anos, mora ao lado do córrego em Itaquaquecetuba desde 1983. "Sempre que chove rezo para não ser muito forte", afirma. "O alagamento na minha casa já ultrapassou um metro [de altura]."

Ele diz ter procurado as prefeituras das duas cidades e nenhuma resolveu o problema. A solução foi instalar uma comporta para barrar a água. A reportagem apurou que quase todas as casas e comércios próximos ao córrego contam com o mesmo sistema de contenção.

A dona de casa Elizabete Gomes da Silva, 59, mora a cerca de 50 metros do córrego, do lado de Itaquaquecetuba, e já perdeu quase todos os móveis. 

No lado paulistano, a dona de casa Idália Monteiro, 46, foi igualmente vítima das cheias e nunca viu solução em nenhum dos lados das margens.

No limite entre a Vila Galvão, em Guarulhos (Grande SP), e do Jaçanã (zona norte), moradores e comerciantes reclamam de transtornos no córrego do Cabuçu, que divide as cidades. Segundo o vendedor de caldo de cana Sérgio Da Villa, 57, há descarte de lixo irregular dos dois lados. "Do lado de Guarulhos, a prefeitura até que às vezes limpa a sujeira, mas é como enxugar gelo."

Coleta

Rose dos Santos, 53 anos, mantém um pequeno comércio no primeiro quarteirão do lado paulistano que faz limite com a Vila Galvão, em Guarulhos, na região do Jaçanã (zona norte da capital). O negócio dela fica no início da rua Cirene de Oliveira Laete, onde não passa o caminhão da coleta de lixo.

Segundo a comerciante, a coleta é feita na avenida Sete de Setembro, em Guarulhos, que dá continuidade à rua de seu comércio. Assim, conta, a sujeira se acumula na região e, posteriormente, acaba levada para o córrego do Cabuçu, que fica ao lado 

Ela reclama ainda que o córrego é usado para descarte irregular de lixo e entulho, o que torna a situação ainda pior. "As prefeituras não assumem o problema. Elas ficam debatendo sobre o limite entre as cidades e nada é feito ainda", diz. 

Apesar de trabalhar em São Paulo, Rose mora na Vila Galvão. Ela afirma que, segundo ouviu das prefeituras das duas cidades, Guarulhos considera o córrego como marco divisório entre os municípios e a capital, a rodovia Fernão Dias.

Remédios

A aposentada Sandra Pereira, 61 anos, diz que a UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Yara, em Osasco (Grande SP), nem sempre conta com médicos e medicamentos suficientes. Ela também reclama do horário de atendimento. 

"Como o posto fecha às 16h, estou indo mais vezes para a capital atrás de consultas e atendimentos", afirma ela, que tem recorrido à UBS da Vila Jaguaré, bairro da zona norte de São Paulo que faz limite com Osasco.

Moradores do Jardim Campanário, Diadema (Grande SP), que faz limite com o Jardim Celeste (zona sul), igualmente reclamam da UBS do bairro. O comerciante Edvilson Nascimento, 29, também diz que vai a postos de saúde de São Paulo em busca de medicamentos.

Resposta

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), diz que a subprefeitura do Jaçanã (zona norte) foi à rua Cirene de Oliveira e encontrou sacos de lixo domiciliar no local e que uma empresa para a coleta de lixo será acionada.

O governo de Guarulhos, gestão Gustavo Henric Costa (PSB), diz que fiscaliza, dentro de seus limites, os descartes irregulares de lixo e que fará vistoria na região.

Sobre as enchentes no limite com Itaquaquecetuba, a prefeitura paulistana diz que realiza trabalho de limpeza do córrego Três Pontes a cada três meses.

A prefeitura de Itaquaquecetuba, gestão Mamoru Nakashima (PSDB), culpa as cheias do rio Tietê, responsabiliza o governo estadual, gestão João Doria (PSDB), cita ocupação das margens e assoreamento devido ao lixo. O Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) afirma que retirou 750 mil toneladas de resíduos entre o córrego Três Pontes e a barragem da Penha (zona leste).

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