Uma criança de três anos caiu, no início da madrugada desta sexta-feira (24), do quinto andar --uma altura aproximada de 15 metros-- de um prédio localizado na zona oeste.
A suspeita é a mãe da menina, de 29 anos, que teve prisão decretada por homicídio tentado e incêndio --ela ateou fogo à cortina do apartamento antes de também se atirar pela janela.
A Polícia Militar informou que foi acionada por moradores do edifício, localizado na avenida Corifeu Azevedo Marques, no Rio Pequeno, por volta da 0h30.
A menina sobreviveu porque caiu sobre um veículo que entrava na garagem do edifício e amorteceu o impacto da queda.
A criança levantou sozinha após bater no para-brisa do carro da consultora de recursos humanos Nadieje Macedo, 42 anos, e do músico Carlos Agili, 44, e cair no chão, segundo contou a mulher. O casal, que voltava do supermercado, não imaginou que era uma menina quando ouviu o barulho da queda que estraçalhou o vidro.
"Ela estava enrolada num lençol, devia estar dormindo, porque não entendia o que tinha acontecido e veio direto pro meu colo", conta Nadieje. Consciente e com pequenos arranhões nas costas, a menina chorou pedindo um casaco. Estava com frio. "Fiquei sem voz na hora. Foi uma coisa de Deus."
O casal acionou o serviço de resgate e a menina foi levada com ferimentos leves para o Hospital das Clínicas.
Moradores do 4º andar, os dois não conheciam a mãe e a garota, que se mudaram para o prédio há apenas três meses.
A rede de proteção da janela também foi cortada, segundo informou a Polícia Militar.
O Corpo de Bombeiros criou um grupo de negociação para socorrer a mãe da menina, que estava trancada e se mostrava abalada no interior da moradia. A tentativa de abordagem levou cerca de duas horas, mas a mulher se negou a abrir a porta para ser atendida pelos bombeiros.
Em aparente quadro de surto, a moradora ateou fogo nas cortinas da janela. Para conter o incêndio e resgatar a mulher, os bombeiros arrombaram a porta da residência.
Ao ver os bombeiros, a mulher, que já estava sentada sobre o parapeito da janela, se jogou. Ela foi resgatada inconsciente e levada ao Hospital das Clínicas. O estado dela é grave. Segundo o HC, a mãe teve múltiplas fraturas. Já a menina está em estado estável.
A Polícia Civil realizou perícia no local nesta sexta-feira. O caso foi registrado no 91º DP (Vila Leopoldina).
No boletim de ocorrência registrado na delegacia consta que mulher estava com duas facas nas mãos, com as quais teria contado a rede de proteção da janela.
A Polícia Civil ouvirá parentes da mulher, inclusive o pai da criança, que não mora no Brasil (leia mais abaixo). Em uma conversa inicial com as autoridades, ainda nesta sexta-feira, a mãe da estudante não relatou problemas psicológicos na filha.
Surto
Há cerca de um mês, a mulher que se atirou do prédio nesta sexta-feira (24) teve o que foi descrito como um surto numa visita à casa da mãe. Às 7h, balançava a filha no colo na varanda do sobrado e gritava "Jesus!" e frases desconexas.
Uma vizinha e amiga da família viu a mulher, alterada e vermelha, não atender aos pedidos da família para largar a criança.
Segundo a vizinha, depois desse episódio, além do tratamento psicológico que já fazia, a mãe da menina ficou internada por alguns dias. "Como ela teve coragem de jogar a menina e se jogar?", perguntou a mulher, de 57 anos.
Na quarta-feira (22), esteve de novo na casa da mãe, no extremo sul. Vestia blusão do avesso e andava de um lado ao outro sem parar. Perguntou para a vizinha, que é educadora, o que fazer com a filha, que não estaria se adaptando à nova escolinha. "Ela é uma ótima mãe. Isso foi problema de cabeça. Ninguém podia imaginar", diz.
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