Familiares do corretor de imóveis Guilherme Teixeira Mendonça de Matos, 33 anos, questionam a prisão dele, ocorrida por volta das 15h do dia 17 deste mês, quando ele trabalhava na Vila Guilherme (zona norte da capital paulista). O rapaz foi preso em cumprimento a um mandado de prisão temporária, acusado de matar com quatro tiros um policial civil aposentado, de 79 anos, no último dia 6 em Cidade Dutra (zona sul).
A Ouvidoria das polícia de São Paulo diz que existem fragilidades na acusação e não vê sustentação na prisão de Guilherme (leia mais abaixo).
Segundo o irmão do rapaz, o também corretor de imóveis Rodrigo Mendonça de Matos, 32, Guilherme estava na casa da namorada, em Taboão da Serra (Grande SP), quando o policial civil aposentado José Dirceu Gordilho foi morto em frente à sua casa. “Temos como provar isso, com base na localização do celular do meu irmão, que inclusive não foi apreendido pela polícia quando ele foi preso.”
De acordo com a polícia, Gordilho pediu para que a mulher abrisse o portão de sua residência, pois havia esquecido o chave. Antes que a mulher saísse, um homem atirou contra o policial e fugiu em um VW Gol branco. A viúva de Gordilho, uma aposentada de 72 anos, testemunhou a fuga do suspeito.
Após o assassinato, a polícia localizou o carro usado na fuga, carbonizado, a cerca de 800 metros da casa da vítima. Com base no número das placas e chassis, identificaram os nomes dos últimos proprietários do veículo, incluindo o de Guilherme -- que vendeu o veículo em 2014.
Ainda no dia do crime, segundo inquérito policial, a polícia mostrou uma foto do corretor à viúva e à neta do policial. Ambas reconheceram ele como autor dos disparos “sem sombras de dúvidas.”
A foto usada para o reconhecimento, no entanto, foi feita em 2009 e consta na CNH (Carteira de Habilitação) de Guilherme. “Como a polícia pode prender uma pessoa após ela ser reconhecida por uma foto feita há dez anos? Nem foi feito o reconhecimento presencial”, argumenta Matos.
O irmão do corretor preso ainda questiona os motivos para que a polícia não procurasse o atual proprietário do Gol, residente de Ourinhos (378 km de SP). “Depois do meu irmão, o carro passou pela mão de mais duas pessoas.”
PM afirma que abordou o corretor no carro
Segundo inquérito, policiais militares afirmam ter abordado Guilherme dentro do carro usado para a fuga do crime, nos dias 13 e 25 de setembro, na região onde aconteceu o crime.
Com base no reconhecimento feito por uma foto de 2009 e do relato dos PMs, que afirmaram ter visto o corretor perto da cena do crime, o MP (Ministério Público) pediu a prisão temporária de 30 dias do corretor, no último dia 14. O Pedido foi aceito pela Justiça, que decretou a prisão dele no dia seguinte.
Defesa
O advogado Razuen el Kadri entrou nesta segunda-feira (21) com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça e também solicitou no Fórum da Barra Funda a revogação da prisão do corretor, que permanecia detido, na carceragem do 2º DP (Bom Retiro) até a publicação desta reportagem.
Em entrevista ao Agora, Kadri afirmou que as acusações contra seu cliente são frágeis. “Meu cliente precisa ser solto imediatamente, por uma questão de justiça. O que ocorreu [prisão do corretor] é uma injustiça. Ele não entende os motivos para estar sendo acusado desta forma.”
O advogado ressaltou que o celular de seu cliente não foi apreendido após a prisão e que a PM não enviou relatórios das duas abordagens mencionadas no inquérito policial. “Temos como provar que ele não estava no cena do crime nem nos locais em que a polícia disse que o abordou”, afirmou.
Ele também diz que um documento assinado pelo chefe do rapaz afirma que ele estava trabalhando nas duas datas mencionadas pela PM. O advogado diz que o documento foi anexado no pedido de habeas corpus.
Ouvidoria
O ouvidor das polícias, Benedito Mariano, afirmou que conversou duas vezes, entre a noite desta segunda e a manhã desta terça-feira (22), com a diretoria do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). Nelas, pontuou três fragilidades da acusação contra o corretor.
A primeira, segundo Mariano, é o fato de o suspeito provar que estava em Taboão da Serra no momento do crime. A segunda é que o carro usado pelo suspeito na fuga foi vendido pelo corretor em 2014 para outra pessoa. E a terceira fragilidade é o reconhecimento feito pela viúva e neta da vítima por meio de uma foto feita em 2009.
“São contradições muito fortes. Diante dessa soma de contradições e fragilidades de prova, minha expectativa é a de que o DHPP peça a soltura do rapaz ainda nesta semana”, afirmou o ouvidor.
Resposta
A SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), afirmou que todas as circunstâncias relacionadas ao caso são investigadas por meio de inquérito policial, instaurado pelo DHPP.
“O pedido de prisão temporária do referido suspeito foi decretado pela Justiça, de acordo com o conjunto probatório e as oitivas colhidas até o momento. As investigações, bem como o trabalho de análise de novas informações e provas, estão em curso para a elucidação dos fatos e prisão do(s) autor(es)”, diz trecho de nota.
A reportagem solicitou entrevista com o delegado responsável pelo caso, por meio da SSP, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
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