Um relatório encaminhado por funcionários à Cipa (Comissão de Prevenção de Acidentes) do Metrô aponta que houve falhas nos primeiros testes com novo equipamento de emergência para bloquear a energia da via.
O dispositivo de segurança, que já foi instalado em toda a linha 1-azul e em parte da linha 3-vermelha (das estações Barra Funda até Bresser-Mooca), segundo o documento, substitui o botão de soco por uma "chave padrão".
Antes, nas estações, se um objeto ou uma pessoa caísse na linha do metrô, os próprios usuários poderiam apertar o botão que ficava na plataforma, em uma caixa acrílica com um telefone, e a linha era automaticamente desenergizada.
Já com o novo equipamento é preciso uma chave --que fica com os funcionários do Metrô ou na sala de controle-- para acionar o dispositivo de segurança.
Em um teste realizado no dia 29 de agosto na estação Sé (linha 1-azul), de quatro chaves usadas, somente uma funcionou, segundo aponta o relatório.
O documento também diz que em algumas estações da linha 1 levou cerca de um mês para que as chaves fossem fornecidas. Neste período, o sistema de segurança ficou sem possibilidade de atuação.
Alex Santana, diretor da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários), diz que algumas das chaves testadas posteriormente funcionaram no dispositivo, mas não no trem --e vice-versa. Além disso, de acordo com o relatório, a maioria dos funcionários das estações não tem chave de serviço, o que poderia gerar dificuldades em urgências.
"Por experiência, vemos que a chave constantemente apresenta problemas e deixa de funcionar. Ela também pode ser perdida e até cair na via", diz Santana.
Segundo ele, a comunicação entre os funcionários pelo rádio também é "ruim", por conta de interferências. "Não será mais possível fazer acionamento imediato."
Santana diz que só na linha 3 há cerca de 500 ocorrências por ano com necessidade de acionamento deste dispositivo de segurança, desde queda de usuários até perda de objetos.
Mudança oferece riscos, segundo engenheiro
Chavear o sistema de segurança é uma medida que vai contra a Norma Regulamentadora 12, definida pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), afirma o consultor de engenharia elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie José Roberto Soares.
Segundo ele, a norma diz que dispositivos de parada de emergência devem estar em locais de fácil acesso e operação por funcionários e outras pessoas.
"Se acontecer algum acidente e for comprovado que isso poderia ser evitado pela operação fácil do sistema, o Metrô pode sofrer implicação civil", afirma.
O consultor afirma que, apesar de evitar ações indevidas, chavear o equipamento de segurança preocupa, principalmente considerando casos em que uma pessoa pode cair na linha. "Eu me sentiria fragilizado."
Para ele, a solução mais adequada seria manter um vigia na plataforma durante todo o tempo. "Essa mudança me parece um risco grande", afirma.
Sindicalista diz que é preciso ter fácil acesso
O coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários, Raimundo Cordeiro, afirma que para um equipamento de segurança ser efetivo é necessário ter fácil acesso.
Para ele, o argumento de que há ação indevida no uso do botão --quando algum usuário aciona o dispositivo sem que seja necessário-- não é suficiente para justificar a mudança.
"Se há acionamento indevido, a solução deveria ser investir em fiscalização, na segurança na plataforma, não diminuir o nível de segurança do usuário. Isso não faz sentido", afirma.
Cordeiro também diz que, além de ser mais burocrático, o novo sistema (com chave) não é totalmente confiável, uma vez que durante o período de implantação houve momentos em que a chave não funcionou.
"O principal problema vai ser conseguir retirar alguém da via de forma rápida. Nessas situações é preciso que os trens parem imediatamente e, o antigo sistema, funcionou bem por mais de 40 anos", diz.
Resposta
O Metrô afirma que o novo recurso é uma melhoria que será implantada até o final de 2020 em todas as estações das linhas 2-verde e 3-vermelha.
A companhia diz que todos os equipamentos das estações passam por "rigorosos testes para evitar que gerem qualquer tipo de risco aos passageiros".
O Metrô também diz que o novo equipamento dificulta os acionamentos indevidos e mantém a função de proteção ao usuário. E que entre 2017 e 2019 (até setembro) foram registrados aproximadamente 200 acionamentos indevidos. "A mudança tem se mostrada positiva pois na linha 1-azul, desde 2018, não houve registro de problema na utilização do novo recurso", diz.
"A área técnica ainda não recebeu o relatório, portanto desconhece seu teor. Há uma reunião agendada com os integrantes da Cipa onde todos os esclarecimentos sobre o novo recurso para o acionamento do sistema de desenergização das vias serão dados", diz.
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