Suspeitos de cobrar por falsas vagas de empregos são presos em SP

Polícia estourou agência na República; quatro foram detidos e três são procurados

São Paulo

A polícia prendeu nesta terça-feira (22) quatro pessoas suspeitas de participar de uma quadrilha que aplicava golpes em desempregados em uma falsa agência de empregos na República (região central). 
Um homem e três mulheres, uma delas reincidente neste tipo de crime, acabaram presos em flagrante.

Mais três pessoas foram identificadas e tiverem prisões solicitadas à Justiça. A agência estava com as portas fechadas nesta quarta, após a ação da polícia.

Segundo a delegada Karla Regina Teixeira, um desempregado procurou o 4º DP (Consolação), na sexta-feira (18), dizendo que teria sido vítima de golpe na agência de empregos Portal Seven. 

“A vítima nos disse que pagou por um curso de colocação no mercado de trabalho [à agência]. Depois disso, foi até uma empresa indicada por ela, onde descobriu que não havia nenhuma vaga de emprego.”

A vítima, disse a delegada, pagou R$ 360 pelo curso —o valor foi dividido em cinco vezes no cartão de crédito. 

Na segunda-feira (21), o desempregado retornou à delegacia, afirmando que a agência havia marcado nova entrevista. Assim, a polícia combinou de acompanhar a vítima no dia seguinte até o local, no número 27 da rua Nestor Pestana. 

Na terça, policiais foram à agência, onde havia 15 “funcionários” e 60 vítimas aguardavam para serem entrevistadas. No local foram apreendidas 57 carteiras de trabalho, além de livros de contabilidade, que auxiliaram a polícia a entender como funcionava o esquema. 

A delegada afirmou as vítimas eram convencidas que precisavam fazer um curso, de quatro horas, na própria agência. Para isso, precisavam pagar entre R$ 280 e R$ 400. 

“Os suspeitos tinham metas diárias a serem cumpridas, pelo que conferimos nos livros apreendidos”, afirmou a delegada. 

Segundo anotações feitas pelos acusados, diariamente ocorriam cerca de 60 atendimentos e 300 currículos eram entregues. Os suspeitos recebiam uma “comissão” por cada vítima que caía no golpe, segundo afirmou a delegada. 

A investigação verificou que, por dia, os golpistas conseguiam faturar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. 
A agência mudava sempre de endereço para fugir das vítimas e evitar flagrantes, segundo a polícia.

Grana emprestada

O desempregado Marcos Silva Oliveira, 21 anos, foi procurado pelos suspeitos na segunda-feira (21). Por telefone, lhe informaram que havia uma vaga controlador de acesso a ele.   

A vítima foi até a agência, onde foi convencida a pagar R$ 360 para fazer o “curso de colocação”. Para isso, foi até Itaquaquecetuba (Grande SP), onde mora, e pegou a grana emprestada com um amigo.

“Os bandidos exploram nossa fragilidade como desempregados. Infelizmente, fui enganado”, afirmou Oliveira, desempregado há oito meses.

Prisão preventiva

Os quatro presos, segundo a polícia, se negaram a prestar depoimento. Em audiência de custódia, a Justiça decretou a prisão preventiva de um homem, 28 anos, e de uma mulher, 33. Às outras duas suspeitas, foi estipulada fiança de R$ 2.000. 

A reportagem tentou entrar em contato com a agência Portal Seven, porém, não localizou sites, telefones ou advogado da empresa. 

Os números de aplicativos de mensagens usados pelos suspeitos estavam bloqueados.

Crise de emprego

O diretor do laboratório especializado em segurança digital dfndr lab, Emílio Simoni, afirmou que criminosos estão explorando o atual momento de crise do emprego no Brasil para aplicar golpes em desempregados. “Isso dá retorno para o fraudador”, afirmou. 

Simoni destacou quatro pontos para que desempregados, esperançosos em conseguir uma colocação do mercado de trabalho, não caiam em golpes. 

O primeiro é desconfiar quando o suposto empregador pede para que seja paga alguma quantia ou ainda que o desempregado dê senhas de acesso a redes sociais, por exemplo. “Ninguém paga para começar a trabalhar. E dar senhas faz com que criminosos tentem aplicar golpes usando redes sociais das vítimas”, ressaltou o diretor. 

O segundo ponto destacado pelo especialista é a oferta de grandes salários atrelados a pouca exigência de formação do candidato. “Algumas pessoas caem nestes golpes”, comentou. 

O diretor orienta, em seu terceiro tópico, para que qualquer informação sobre vaga de emprego seja conferida pelos interessados diretamente nas empresas.

Por fim, Simoni ressalta para que os candidatos a vagas de emprego evitem entregar seus currículos, com dados pessoais, em locais suspeitos.

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