Cartinhas para o Papai Noel têm até pedidos de amizade eterna

Maioria dos pedidos enviados aos Correios são de bens materiais, mas muitos são inusitados

São Paulo

Nos últimos 30 anos, quando chega a época do Natal, os Correios recebem milhares de cartas de crianças e de pais destinadas ao Papai Noel. No geral, os desejos costumam variar entre brinquedos, roupas e materiais escolares. 

Entretanto, algumas cartinhas destoam desse roteiro e pedem coisas que não são materiais. É o caso das amigas Maria Emanuela e Raíssa Helena, que escreveram pedindo que a amizade delas seja para sempre.

As meninas têm 8 anos, moram em Mogi das Cruzes (Grande SP) e se conheceram na escola. Elas estudaram juntas em 2019 no 4º ano do ensino fundamental. 

“Eu quero de Natal que eu e a Maria Emanuela sejamos melhores amigas até o fim”, diz a cartinha enviada por Raíssa. “E que meu gato, o Lindo, arrume uma namorada”, completou no texto. 

A amiga retribuiu o desejo na carta que também enviou ao Papai Noel. “Eu agradeço tudo que recebi este ano. Eu só vou pedir uma coisa: amizade eterna com a Raíssa, minha melhor amiga, por favor!”, escreveu Maria Emanuela no pedido.

“Elas mandaram a carta pela escola”, diz o engenheiro Lucas Nóbrega Dantas de Aquino, 38, pai de Maria Emanuela. “Achei inusitado o pedido delas. Normalmente as crianças pedem brinquedos. São amigas da escola, mas a Raíssa já veio aqui também e minha filha já foi lá. Ela já ganhou da amiga um daqueles colares de coração que fica uma metade com cada uma, são bem amigas.”

A menina afirma que conheceu Raíssa no começo de 2019, mas que já se tornaram muito próximas. “Ela entrou neste ano na nossa classe e ficamos amigas.”

Maria Emanuela diz que  todo ano os alunos mandam cartinhas para o Papai Noel, só que desta vez uma professora explicou que não precisava só pedir coisas materiais, mas também fazer agradecimentos, por exemplo.

“Então, nós combinamos de pedir a mesma coisa, que a gente fique sempre juntas, porque somos muito amigas”, afirma.

Crescimento 

“Este projeto nasceu com uma iniciativa genuína dos funcionários e foi crescendo”, diz Marta Maria Manassero, coordenadora do programa dos Correios em São Paulo. 

“O presente é importante, mas também queremos passar a mensagem de manter o jeito criança de ser, de manter o espírito do Natal”,  afirma ela.

Em 30 anos de campanha, foram atendidos mais de 6 milhões de pedidos, segundo os Correios.

Após perder o pai, Anna Júlia pede alegria para um mundo melhor

Maria Emanuela e Raíssa não foram as únicas que deixaram os brinquedos de lado na hora dos pedidos para o Papai Noel. Anna Júlia Pereira, 9 anos, escreveu uma cartinha pedindo alegria. No texto, a menina afirma que é a “alegria que faz o nosso mundo um lugar melhor”. 

"Esse desejo surge por tudo que a gente já passou na vida. Ela perdeu o pai dela. Nós somos uma família humilde”, conta a mãe, Elisabete Luiz Pereira, 50, funcionária pública.

Anna, que mora com a mãe e outros sete irmãos na Penha (zona leste), diz que uma das irmãs a ajudou a escrever a carta. “Todo ano eu mando [a carta]. Quero que as crianças tenham alegria, um feliz Natal. Vejo as pessoas que precisam, fico com dó, mas não tenho condições de ajudar.”

E existem outros pedidos “diferentes”, como o da Kethelly, 9, que quer que o Papai Noel dê o que “o senhor sentir no seu coração”. 

Vinícius, de 8 anos, pediu um presente que “não seja muito caro”. A mãe de Kaique e André, de 12 e 7 anos, respectivamente, escreveu solicitando felicidade para os dois filhos. João, 10, mandou uma carta com um pedido bem pessoal. O garoto quer conhecer o próprio Papai Noel.

Mãe pede para o talento do filho ser reconhecido

Nas cartas existem pedidos de pais que também pensam no futuro dos filhos. A dona de casa Aparecida Moreira Santos, 42 anos, solicitou para alguém olhar o talento de João Pedro, 10, que é desenha muito bem, segundo ela.

“É um dom que ele tem. Mandei a cartinha para que alguém incentivasse ele com este talento”, afirma, sobre o filho. “Ele olha um desenho animado na TV ou no celular e consegue reproduzir só de observar, principalmente heróis japoneses.”

Segundo a mãe, que mora em Rio Grande da Serra (ABC), com cinco anos João já mostrava ter boa coordenação motora.

Relatos vão de problemas familiares a doação de gatos

Centenas, às vezes milhares, de cartinhas chegam aos Correios durante a campanha de Natal, contando histórias de dificuldades financeiras e problemas familiares. 

E os relatos de superação ficam ainda mais comoventes porque boa parte deles são escritos por crianças. 

No meio dos textos, muitas dessas histórias chamam a atenção dos próprios funcionários dos Correios pelos pedidos curiosos que o acompanham.

É o caso da menina Kiara, 9 anos, que conta em sua cartinha que precisa de ajuda com gatos que surgiram na sua casa. 

“Apareceram seis gatinhos aqui no portão, já doamos três. Você quer um gatinho lindo?”, pergunta a criança ao Papai Noel.

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