Descrição de chapéu Grande SP

Moradores temem novas cheias e perdas um ano após enchente

Temporal que atingiu Cajamar e Santana de Parnaíba destruiu casas no primeiro dia de 2019

São Paulo

O 1º de janeiro de 2019 era para ser de descanso e celebração pelo início de mais um ano. Mas para quem vivia em Cajamar e Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, o recomeço foi de prejuízo, lama e tristeza com a enchente que invadiu centenas de casas no limite dos dois municípios. Passado um ano do temporal, os moradores dizem que quase nada mudou e temem que o pior volte a acontecer com o período de chuvas.

O comerciante Aluizio Faustino Correia, 61 anos, e o ajudante-geral desempregado Wanderley Caetano, 51 anos, observam o córrego das Traíras, no limite dos municípios de Cajamar e Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Para evitar que a água do córrego das Traíras volte a invadir as casas, alguns moradores estão se preparando para o início do verão. É o caso do ajudante-geral desempregado Wanderley Caetano, 51 anos. A casa onde ele mora com a mulher e mais dez pessoas, na avenida Bento da Silva Bueno, em Cajamar, foi uma das invadidas pela água.

“Nós perdemos tudo. A água chegou a 1,5 metro e levou tudo o que tínhamos aqui: móveis, roupas, geladeira e fogão. Conseguimos o que temos agora por doação de uma loja de móveis. E para evitar mais prejuízos, estou mudando a entrada da casa”, disse Caetano.

O pintor desempregado Roberto dos Santos Almeida, 46 anos, também decidiu não esperar pelo poder público e está construindo um cômodo em cima da casa que pertencia à mãe, que morreu meses após a enchente. A residência, de dois cômodos e um banheiro, é uma das cerca de 80 que formam a favela do Paraíso, em Cajamar, uma das mais atingidas pelo temporal.

“Nossa situação está a mesma aqui. Melhorou o quê? Não vejo nada de melhora aqui. Tudo o que tem aqui [na casa] é por doação que minha mãe recebeu. Agora estou construindo um quartinho para ficar quando encher”, afirmou.

Também moradora da favela do Paraíso, a dona de casa Tereza Perez, 60 anos, disse que a situação da casa onde mora há mais de 40 anos não mudou em nada. “Aqui está tudo igual ao que estava antes da chuva e estamos todos com medo do que pode acontecer de novo”, afirmou Tereza.

Comerciantes ainda contam prejuízos

Comerciantes de Cajamar e Santana de Parnaíba também amargaram prejuízos que ainda não conseguiram recuperar. Segundo donos de bares e restaurantes, a tubulação existente não comporta mais o volume de água que vem pelo córrego das Traíras, principalmente quando chega na avenida Tenente Marquês.

O comerciante José Moreira Lima, o Zé Nito, 58 anos, perdeu geladeiras e freezers do seu bar naquele 1º de janeiro, quando a água chegou a 1,20 m. “Nem a comporta que temos na porta deu conta da força e do volume de água. Nunca tivemos uma enchente como aquela. Perdemos vários equipamentos e eletrodomésticos que tivemos que comprar usados e em prestações, um prejuízo de R$ 19 mil. O pior é que a água ficou represada e levamos dias para limpar tudo.”

A comerciante Vanessa Santiago, 39 anos, nem quis fazer as contas de quanto foi o prejuízo do restaurante da família. Além de perder freezers, geladeiras, botijão de gás e churrasqueira, a comerciante também viu desaparecer toda a calçada da frente do restaurante. “Só a calçada pagamos R$ 6.000 para refazer”, afirmou.

Vanessa disse que a única coisa que mudou desde a enchente foi uma obra que está sendo feita para aumentar a calha do córrego. “Nossa situação está igual a de antes da enchente. Agora só rezando”, afirmou. 

Família fica de olho em córrego que divide cidades

Depois da enchente de 1º de janeiro, o medo toma conta do comerciante Aluizio Faustino Correia, 61 anos, e sua família. Eles perderam tudo o que tinham na casa onde moram com a família e no lava-rápido, que fica no mesmo terreno, em Santana de Parnaíba.

“Moramos aqui há 20 anos e nunca choveu tanto como naquele dia. Antes era, no máximo 15, centímetros de água, que nem entrava em casa. Mas em janeiro foi 1,5 metro. Perdemos tudo, e só temos o que temos aqui porque recebemos doação”, afirmou.

Agora, toda vez que chove, a família fica de olho no córrego, que está a poucos metros da casa.
“Se encher muito, a gente coloca o que dá pra cima, tira os carros dos clientes e vai para rua. Ou seja, nossa situação não mudou nada. A diferença é que agora estamos com medo de uma nova enchente”, afirmou o comerciante.

Cajamar diz que estuda obras

A Prefeitura de Cajamar, sob a gestão de Danilo Joan (PSD), disse em nota que a Secretaria de Obras e Serviços Públicos já iniciou estudos para obras para conter as inundações no córrego das Traíras. A prefeitura disse ainda que “está trabalhando na limpeza dos córregos e rios da cidade”, entre eles o córrego das Traíras.

A administração ressalta que, de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, na época das enchentes, os moradores foram acolhidos e “receberam a devida atenção”.

A reportagem procurou a Prefeitura de Santana de Parnaíba, mas até a conclusão desta edição não recebeu resposta. 

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