Enquanto casos de coronavírus (vírus que causa doenças respiratórias) se alastram pelo mundo a partir da China, uma mensagem falsa sobre gripe a circula nas redes sociais. O texto menciona o Hospital das Clínicas, da região central de São Paulo, e o Hospital São Domingos, de Catanduva (385 km de SP), ao fazer recomendações sobre como prevenir e tratar infecções.
As duas instituições desmentiram a divulgação das informações. O boato afirma que um diretor do Hospital das Clínicas faz várias recomendações por estar “preocupado com a nova gripe”. Mas, segundo a assessoria da instituição hospitalar, o texto não foi feito pela entidade.
A mensagem cita também que um suposto infectologista do Hospital São Domingos recomenda tomar chá de erva-doce para tratar o vírus influenza. Isso também é falso. Em nota, o hospital afirma que nenhum infectologista da sua equipe indica o uso do chá e que “não há nenhuma comprovação científica quanto ao uso do chá de erva-doce no lugar de medicamento contra o vírus H1N1 ou com o mesmo efeito do Tamiflu”.
Diferente do que diz a mensagem, o medicamento Tamiflu não é feito de erva-doce. Segundo a Roche, farmacêutica responsável pelo remédio, ele é composto por fosfato de oseltamivir e não por anis estrelado ou pela erva-doce.
Esper Kallás, médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, afirma que é totalmente mentira que tomar chá de erva-doce e comer fígado de boi, como também diz a previne ou trata a gripe.
“Não existem remédios ou comidas mágicas”, afirma Francisco Ivanildo, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Também segundo médicos, não há comprovação clínica sobre a ingestão da vitamina C, presente na laranja e na acerola, para tratar gripes e resfriados.
Na verdade, de acordo com Ivanildo, a vitamina pode melhorar a imunidade, mas não evitar doenças em si. Os médicos indicam ter uma dieta balanceada, que combine frutas, verduras e alimentos com proteína. Manter-se hidratado também é necessário.
Para Kallás, a não ser que venha orientações específicas de autoridades de saúde, não há motivo para evitar aglomerações em ônibus, metrôs e parques, por exemplo, como diz a mensagem falsa. “As pessoas devem levar a vida normalmente”.
Já Ivanildo diz que apesar de recomendada para algumas pessoas, a possibilidade de evitar locais com aglomerações varia conforme o estilo de vida e as condições socioeconômicas de cada um. Segundo o infectologista, a chance de contaminação por doenças transmitidas por vias respiratórias aumenta em locais fechados e com muita gente.
O que realmente é recomendado
Segundo Ivanildo, além de ter uma alimentação balanceada, é recomendado higienizar as mãos com frequência para evitar a contaminação por doenças transmitidas por contato.
Kallás afirma que é importante usar álcool em gel e lavar as mãos antes e depois de ir ao banheiro e se alimentar corretamente. O uso de máscaras é recomendado em casos graves.
O professor lembra que outra forma de prevenção é se vacinando. A vacina para gripe é recomendada principalmente para quem pode desenvolver um quadro grave da doença, como idosos, crianças até 2 anos, gestantes, pessoas com problemas respiratórios ou de imunidade e profissionais de saúde.
Não compartilhe informações falsas
Para Esper Kallás, a chance de boatos se disseminarem em momentos em que existem casos de saúde de grande repercussão, como o coronavírus, é maior. O especialista afirma que o Brasil não está, a princípio, na rota frequente de transmissão de gripe.
Já Ivanildo acredita que o aparecimento do boato é aleatório e não está ligado a assuntos como o coronavírus. O médico afirma que mensagens como essa têm surgido e desaparecido nos últimos dois anos.
Segundo o professor, acreditar em informações erradas “coloca a si mesmo em risco”, pois a pessoa pode fazer uso do que não deve em vez de tomar as medidas adequadas. Em casos extremos, mensagens falsas podem resultar em atitudes discriminatórias, “prejudicando até quem não acredita”.
Ivanildo destaca que, antes de acreditar e repassar mensagens com informações desnecessárias que possam causar pânico, é necessário checar a veracidade delas.
Para conferir se alguma informação que recebeu é verdadeira, Kallás e Ivanildo recomendam que as pessoas busquem em sites confiáveis, como o Ministério da Saúde. Outra opção é conversar com especialistas, como médicos e enfermeiros, que possam esclarecer o assunto.
Fique atento
Como se prevenir de gripes
- Beber bastante líquido
- Ter uma alimentação balanceada
- Higienizar as mãos
- Aplicar vacina, principalmente para quem está no grupo de risco
Não cura gripe
- Tomar chá de erva-doce
- Comer fígado de boi
- Substituir medicamento
- Ingerir alimentos com vitamina C (como laranja e acerola)
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