Um coronel que defende seus soldados na 1ª Guerra Mundial. O escravo que lidera uma rebelião contra Roma. Um delegado que busca o assassino de sua mulher. Um jornalista que se vê diante da história que pode restaurar seu prestígio. Esses são alguns dos personagens com que Kirk Douglas, morto aos 103 anos no dia 5, marcou a história do cinema.
Ao longo de mais de 60 anos de carreira, o ator, um dos últimos da era de ouro de Hollywood, trabalhou em cerca de 90 filmes, mas, ao pensar em seu nome, é difícil não lembrar de “Spartacus”, o épico sobre o escravo na Roma Antiga, dirigido em 1960 por Stanley Kubrick. Os dois já haviam trabalhado juntos, em “Glória Feita de Sangue”, e Douglas convidou Kubrick após discordâncias com o diretor Anthony Mann, o escolhido inicialmente para o projeto.
Com “Spartacus”, o ator também resgatou o roteirista Dalton Trumbo, até então banido de Hollywood pelo macarthismo, a perseguição a artistas comunistas entre os anos 1950 e 1960. Douglas não havia gostado do roteiro, e procurou Trumbo, pedindo ajustes no texto e dando os créditos ao escritor no filme, atitude que ajudou a pôr fim ao boicote a esses artistas.
A colaboração anterior de Douglas e Kubrick já havia sido marcante. O ator interpretou o coronel Dax, em “Glória...”, filme que se passa na França, na 1ª Guerra Mundial.
Na trama, generais instalados em palácios bem decorados decidem o futuro de soldados entrincheirados, levando-os a uma batalha perdida de antemão. Dax sabe disso, questiona as ordens superiores, mas tem de cumpri-las. Após a derrota, três soldados são levados à a corte marcial, sob a acusação de covardia (os generais não querem assumir a responsabilidade pelo fracasso). E Dax decide defendê-los.
Mais de 60 anos, o filme continua atualíssimo, ao mostrar a guerra decidida nos gabinetes e a guerra nua e crua, feita de suor e sangue nas trincheiras. E Douglas sabia da atualidade do longa. Em 1969, disse: “Este é um filme que será bom daqui a alguns anos. Não preciso esperar 50 anos para saber disso. Eu sei”.
O ator estrelou ainda inúmeros westerns. Destaco um deles, “Duelo de Titãs”, do diretor John Sturges, em que contracena com Anthony Quinn. O ator é o delegado Matt Morgan, que busca o homem que estuprou e assassinou sua mulher. Ele descobre que o autor do crime é o filho de um antigo amigo, um poderoso rancheiro. O conflito está estabelecido, mas Morgan é irredutível no desejo de cumprir a lei.
Por fim, como jornalista, não poderia deixar de lembrar de “A Montanha dos Sete Abutres”, de 1951. Dirigido por Billy Wilder, o longa sempre é citado em listas de filmes sobre jornalismo. Douglas é Chuck Tatum, um repórter que passou por grandes jornais, mas que está trabalhando em um veículo local, em uma cidade dos EUA.
Ele descobre a história de um homem preso em uma mina e vê na cobertura do resgate um trampolim para voltar a ser reconhecido. Para isso, monta um verdadeiro circo, atraindo a imprensa de todo o país. Uma aula de como não se fazer jornalismo.
Cinema brasileiro
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