'Judy' mostra a estrela em carne e osso

Filme candidato ao Oscar de melhor atriz acompanha o último ano da vida de Judy Garland

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Renée Zellweger no filme 'Judy'
Renée Zellweger em cena do filme 'Judy' - Divulgação
São Paulo

"Sou uma pessoa real, como todos, com erros e acertos. Sou Judy Garland por uma hora ao dia --quando estou no palco", afirma a atriz, interpretada por Renée Zellweger, em um momento de "Judy, Muito Além do Arco-Íris", na cinebiografia sobre a estrela da era de ouro de Hollywood, com estreia marcada para o dia 30 nos cinemas do país.

Pois "Judy" nos mostra a pessoa de carne e osso por trás da celebridade. O filme, baseado na peça "End of the Rainbow", de Peter Quilter, retrata o último ano de vida da atriz e cantora, que morreu aos 47 anos, em 1969.

Esses últimos meses não foram nada glamourosos. Praticamente uma sem-teto, Judy pulava de hotel em hotel com os dois filhos menores, que dividiam o palco com a mãe em troca de pagamentos nem sempre à altura da estrela que ela era.

Em uma tentativa de conseguir estabilidade financeira para manter a guarda dos filhos, reivindicada por seu quarto e penúltimo marido, o produtor Sid Luft (Rufus Sewell), a atriz aceita fazer uma turnê em Londres. É justamente nesse período que "Judy" se concentra. Longe de casa, ela tem de lidar com a distância dos filhos e o abuso de bebidas alcoólicas e remédios.

Renée Zellweger, há um tempo sumida do cinema, cria a sua Judy e a defende muito bem. Para tanto, fez aulas de música e estudou as coreografias da atriz, além de passar por uma maratona de maquiagem com próteses, perucas e lentes de contato.

"Não se tratava de imitar, mas de encontrar sua essência. A presença de Judy é lembrada de geração em geração porque ela é alguém com quem podemos nos identificar, sentir sua incompreensão, sua vulnerabilidade", disse a atriz ao El País.

Mas como uma estrela como Judy chegou a esse ponto de fragilidade? As pistas são lançadas nos flashbacks do filme, que a mostram ainda jovem, prestes a filmar "O Mágico de Oz". Adolescente, ela sofre assédio moral do produtor Louis B.Mayer, que diz que a está moldando da forma como a plateia deseja.

É constantemente vigiada por uma funcionária do estúdio, que lhe dá remédios para tirar o apetite e controla cada pedaço de comida que ela vai comer. Quando Judy reclama que não consegue dormir por causa dessas drogas, recebe soníferos.

Parte da mesma plateia para qual o talento de Judy foi moldado a hostiliza quando ela, sob efeito de álcool e remédios, não consegue concluir um show da turnê em Londres.

E fica a pergunta: qual o papel do público nas engrenagens do entretenimento, ao querer sempre ídolos bonitos, magros, perfeitos, sem celulite ou qualquer outro problema mundano que os faça parecer gente como a gente? Qual o papel do público quando despreza Judy ou xinga uma atriz que tem quilos a mais do que se convencionou ser o certo? Felizmente, ao menos neste filme, o amor dos fãs fala mais alto.

Na mesma entrevista ao El País, Renée Zellweger falou sobre a cobrança pela imagem perfeita. "Vivemos em um mundo onde o que importa são as aparências. Eu vivi isso, mas felizmente não até o grau que afetou estrelas como Marilyn Monroe. Ou Judy Garland. Esperava-se que dessem tudo assim que pisassem na rua. Nem quero imaginar o quão esmagador isso deve ter sido", afirmou.

Agora, todo o esforço da artista deve ser recompensado com o Oscar de melhor atriz, ao qual é considerada favorita (Hollywood adora atores que passam por transformações para interpretar seus personagens). A premiação acontece no dia 9 de fevereiro.

Cena de "O Mágico de Oz"
Cena de "O Mágico de Oz" - Divulgação

Atriz foi garota prodígio da era de ouro de Hollywood

Judy Garland nasceu em 10 de junho de 1922, com o nome de Frances Ethel Gumm. A mãe percebeu cedo o talento da filha, e Judy passou a se apresentar com as irmãs mais velhas, rodando os EUA em apresentações em hotéis, teatros e cabarés.

Em 1935, Judy foi convidada para um teste na MGM, então um dos principais estúdios de Hollywood. A mudança do nome teria ocorrido nessa época. Ela foi aprovada e estreou no cinema um ano depois, em "You Made Me Love You", filme com o mesmo nome de uma de suas mais famosas canções.

Sua carreira só decolou depois que ela cantou em uma festa de aniversário de Clark Gable, onde estava Louis B. Mayer. Aos 17 anos, em 1939, estrelou "O Mágico de Oz", seu maior sucesso. Ganhou um Oscar de melhor atriz juvenil e ficou eternizada na história do cinema. Três anos depois, fez seu primeiro filme adulto, "Idílio em Do-Ré-Mi".

Em 1944, filmou "Agora Seremos Felizes", outro sucesso, dirigido por Vicent Minnelli. Os dois se casaram e fizeram juntos mais dois filmes, "O Ponteiro da Saudade" e "O Pirata".

Aos 28 anos, após ir para a reabilitação por abuso de remédios e ser substituída por Ginger Rogers em "Ciúme, Sinal de Amor", foi demitida da MGM. Mudou-se para Nova York e começou na Broadway.

Em 1953, foi contratada pela Warner Bros para a refilmagem de "Nasce Uma Estrela", outro grande sucesso. Ganhou um Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar. Já no terceiro casamento, com Sid Luft, continuou a se apresentar nos palcos e começou a perder dinheiro em razão de dívidas e do vício do marido em apostas.

A carreira de Judy no cinema renasceu em 1961, em "O Julgamento de Nuremberg". Foi novamente indicada ao Oscar. Participou depois de mais três filmes, e nos últimos anos de vida fez apresentações musicais.

Mostra no MIS lembra a atriz e cantora

A mostra "Musicais no Cinema", em cartaz no MIS (Museu da Imagem e do Som) até 26 de fevereiro, não poderia esquecer Judy Garland. E não esqueceu. A cantora está presente em vários ambientes da exposição. Localizado no Jardim Europa (zona oeste de São Paulo), o MIS funciona de terça a domingo, e os ingressos custam de R$ 10 (meia) a R$ 20 (inteira).

Veja quem é quem no filme

Liza Minnelli em 'Cabaret', filme de 1972 de Bob Fosse
Liza Minnelli em 'Cabaret', filme de 1972 de Bob Fosse - Divulgação

Liza Minnelli
Filha de Judy com o diretor Vicent Minnelli. Estreou no cinema aos 14 meses de idade, no filme “A Noiva Desconhecida”. É atriz e cantora. Ganhou um Oscar pela interpretação de Sally Bowles em “Cabaret”, de 1972. No filme, Judy vai a uma festa na casa da filha.

Os atores Judy Garland e Mickey Rooney em cena do filme "Calouros da Broadway" - Divulgação

Mickey Rooney
Estrela juvenil como Judy), fez parte de vários musicais com a atriz. Em 1940, foi o primeiro adolescente a ser indicado ao Oscar de melhor ator. Participou de filmes como “Bonequinha de Luxo” e “Réquiem para um Lutador”. Em “Judy”, o ator aparece nos flashbacks que mostram a atriz na juventude. 

Louis B. Mayer
Um dos fundadores da MGM (Metro Goldwyn Mayer), um dos principais estúdios da era de ouro de Hollywood, lar de estrelas como Clark Gable, Joan Crawford e, claro, Judy Garland. No longa, ele dá ‘orientações’ para a atriz antes das filmagens de “O Mágico de Oz”.

Sid Luft
Penúltimo marido de Judy, foi produtor de “Nasce uma Estrela”, um dos grandes sucessos da atriz. Teve dois filhos com ela. No longa, Luft discute com a estrela sobre a situação financeira dela e a guarda das crianças.


ONDE VER FILMES DE JUDY GARLAND
(preços pesquisados no dia 7 de fevereiro de 2020)

O MÁGICO DE OZ
iTunes: R$ 7,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)
Google Play: R$ 5,90 (aluguel) e R$ 9,90 (compra)
americanas.com.br: DVD por R$ 19,99
NASCE UMA ESTRELA
iTunes: R$ 7,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)
Looke: R$ 7,99 (aluguel)

AGORA SEREMOS FELIZES
iTunes: R$ 7,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)

CASA, COMIDA E CARINHO
iTunes: R$ 7,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)

AMOR DE PEQUENA
americanas.com.br: DVD por R$ 30

DESFILE DE PÁSCOA
americanas.com.br: DVD por R$ 40
livrariacultura.com.br: DVD por R$ 34,90

O PONTEIRO DA SAUDADE
livrariacultura.com.br: DVD por R$ 39,90

QUANDO AS NUVENS PASSAM
​NOW: R$ 3,90 (aluguel)

Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

50 anos, é formada e pós-graduada em jornalismo. Gosta de ver filmes em qualquer plataforma (TV, celular, tablet), mas não dispensa uma sala de cinema tradicional.

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