Descrição de chapéu Zona Leste

Mortes de funcionários por suspeita de coronavírus põem hospitais públicos de SP em alerta

Dois trabalhadores das unidades Tide Setúbal e Tatuapé morreram nesta semana

São Paulo

As mortes de dois profissionais da saúde nos hospitais municipais do Tatuapé e Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (ambos na zona leste), nesta terça-feira (31), sob suspeita de contaminação pelo coronavírus, colocaram em alerta os funcionários da saúde pública na capital. Eles têm reclamado da falta de EPI (equipamento de proteção individual) e relatado desespero no atendimento aos pacientes com Covid-19. O Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo acompanha os casos.

O auxiliar de enfermagem Eduardo Gomes da Silva, 48 anos, morreu após sete dias internado no Hospital Tide Setúbal, onde trabalhava. Segundo colegas de serviço e familiares, Silva começou a sentir sintomas da Covid-19, como febre, no último dia 20.

O auxiliar de enfermagem Eduardo Gomes da Silva, 48 anos, morto no Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (zona leste), por suspeita de Covid-19 - Arquivo pessoal

O funcionário da saúde foi mandado para isolamento residencial, em casa, onde permaneceu até o dia 24, quando retornou ao hospital e acabou internado.

A declaração de óbito de Silva traz insuficiência respiratória e pneumonia grave como os motivos da morte. Segundo a irmã dele, a também auxiliar de enfermagem Telma Gomes Amorim, 44 anos, o médico apontou na tomografia o pulmão com característica de Covid-19 e outros sintomas comuns na contaminação pelo coronavírus. "Para confirmar, falta apenas o resultado do exame de secreção, mas está demorando no Brasil inteiro. Falaram que o Ministério da Saúde entrará em contato conosco", diz.

Telma afirma que o médico que atendeu seu irmão apontou que ele apresentava um quadro asmático, doença desconhecida por toda a família. "Ele nunca usou bombinha ou reclamou de falta de ar. Andava de bicicleta, jogava bola, andava de patins com a filha", explica.

Segundo Telma, o irmão era apaixonado pela família, pela profissão e também pelo Corinthians. "Vou colocar sobre o caixão as fotos dele com a camisa do Corinthians e com a roupa de auxiliar de enfermagem", disse. Não haverá velório e o corpo seria sepultado ainda nesta quarta-feira (1) no Cemitério do Lageado (zona leste), com caixão lacrado.

O auxiliar de enfermagem Eduardo Gomes da Silva, 48 anos, morto no Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (zona leste), por suspeita de Covid-19 - Arquivo pessoal

Silva era morador de Guaianases, na mesma região, e tinha duas filhas. "Era alegre, brincalhão. Todos gostavam muito dele. Daqui a uma semana, ele se tornaria técnico em enfermagem", diz Telma.

A irmã do auxiliar de enfermagem conta que outros dois colegas da equipe de Silva também estão internados com suspeita de ter contraído Covid-19.

Outro profissional da saúde que morreu também sob suspeita de contaminação pelo coronavírus foi o enfermeiro Idalgo Moura, 45, que trabalhava no Hospital do Tatuapé e teve o corpo enterrado na tarde desta quarta (1) em Santo André (ABC).

Irmão do enfermeiro, o técnico em segurança do trabalho Agnelo Moura, 39, conta que a declaração de óbito traz como causa da morte insuficiência respiratória a esclarecer, aguardando exames laboratoriais, broncopneumonia suspeita de Covid-19, além de um aviso para que não seja realizada a autópsia.

Idalgo Moura, 45 anos, enfermeiro do Hospital Municipal do Tatuapé (zona leste), morto com suspeita de contaminação pelo coronavírus - Arquivo pessoal

Segundo Agnelo, Idalgo não era diabético ou hipertenso e teve apenas pedras no rim há um mês atrás.

O irmão veio da Paraíba para ficar próximo do enfermeiro. "Idalgo era um exemplo de cara que saiu da zona rural do município de São José de Espinharas [PB], com prospecto de dar errado na vida. Negro, pobre e venceu por méritos próprios. Chegou por ele mesmo, por isso a gratidão de muita gente", disse Agnelo.

Aviso

O presidente do Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo), Sergio Antiqueira, afirma que já cobrou da prefeitura a distribuição de equipamentos de proteção contra o coronavírus e que a situação dos trabalhadores da saúde é dramática. "Primeiro, denunciamos a falta de EPI. Depois, o adoecimento. E agora já estamos falando da morte de trabalhadores", disse.

Segundo Antiqueira, a falta de testes para detectar o vírus em trabalhadores da saúde complica ainda mais a situação na capital. "Estamos com um atraso enorme para identificar o que está acontecendo, qual é a real situação."

O presidente do Sindsep diz que os relatos que tem recebido são graves e o cenário tende a piorar. "Daqui uma ou duas semanas, a contenção no sistemas de saúde e funerário entrará em colapso", afirma.

Resposta

A prefeitura, sob a gestão Bruno Covas (PSDB), diz que não divulga informações sobre casos individuais de pacientes, sejam eles suspeitos ou confirmados, de infecção por coronavírus. "O sigilo médico tem como objetivo manter a privacidade dos pacientes e familiares, preservando a identidade em todos os casos", afirma, em nota.

Os dois profissionais da saúde mortos nesta segunda (31) trabalhavam nas AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais) anexas, que são as portas de entrada dos dois hospitais e funcionam como um pronto-socorro.

As duas AMAs contam com trabalhadores da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), que afirma que ambos os pacientes eram colaboradores da instituição e "receberam toda a assistência necessária ao caso, assim como suas famílias, que também foram acolhidas".

"É importante esclarecer que não é possível afirmar até o momento que tais pacientes desenvolveram a Covid-19, pois os resultados dos exames para detecção do coronavírus ainda não foram disponibilizados", afirma a instituição, em nota.

A SPDM afirma que se solidariza com os familiares por sua perda, permanecendo à disposição para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários.

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